segunda-feira, agosto 29, 2005

14 - AS NEVES DE ANTANHO (*)

Quem me dirá em que país verde e amarelo a balada de François Villon ainda faz suas perguntas? em que lugar da terra aquela moça agora se esconde, ela que jogava as tardes em cima de mim? E onde estão as matas e os bichos de outrora? os ecos propalantes dos vales e redondezas? O casal de lobos debaixc do pé de jacarandá? e os luares de outrora? O verde mais antigo? as inventoras de albores e crepúsculos e noturnos? Onde estão as senhorinhas de antigamente? Onde a doce balada fala do amor perdido, depois de desestrelar o céu de tantas naves? em que ninho de abril a rolinha agora se exila? De onde o amor telefona sem nunca mais estar lá? de onde ele manda as palavras dentro de uma goiaba? Onde estão as moças da roça, agora tão sumidas? Onde estão as chuvas miúdas daqueles tempos? as tanajuras, os vagalumes, os lobisomes? A moça que beliscava minha alma visitou-me na reles lembrança nublada de outro dia? Onde estão o ar o cheiro a cor daquelas tardes tão repentinas e demoradas? E as neves que vinham nos sonhos, onde estão? 

(*) François Villon (l43l-l463) é o autor da Balada das Neves de Antanho, que li uma vez e jamais esqueci, a ponto de tentar a paráfrase acima.