segunda-feira, agosto 29, 2005

8 - A ÁRVORE DOS SONHOS (*).

Um dia a árvore dos sonhos inopinados
desabou na cabeça do escultor GTO,
que logo começou a vazar
o ouro das dívidas e das imaginações:
a dança dos ícones nas gravuras parietais
a agoniada prateira dos ex-votos
o balaio das miniaturas e das ampliações
a escalação dos totens, manipansos e penitentes
a montanha devocional das tribos indígenas
as efígies serôdias de Assubarnipal e de Arariboia
os perfis enfiados dos heróis da história-pátria
os ritos de passagem dos velhos arraiais
a acrobática peleja grupal dos roceiros.

As entidades espirituais escorregam de suas mãos
Em sombria, quase opaca luz dos transes
que anima os traços e relevos da matéria-prima
Assim
da fratura dos troncos avermelhados saltam
os guerreiros corporais nas rodas e labirintos
as etnias as classes as mandalas e oroboros
os símbolos imemoriais de nossa caminhada
É assim que ele tenta regressar à pureza
Que o quer, lá na frente.

E lá um dia os galhos e ramos da árvore
Atávica
Brotam em suas mãos primitivas e criadoras
Assim ele pode sacudir a sina (e para não endoidecer
nas horas traumáticas do dia-a-dia ), assim ele
expulsa os demônios do corpo!
Assim ele mergulha na pureza para saber
Que não existe erro na face da terra.

(*)Este poema dá o título e faz a abertura de um filme de Carlos Augusto Calil e Lauro Escorel, em l978.