segunda-feira, agosto 29, 2005

11 - À MEMÓRIA DE SEBASTIÃO BENFICA MILAGRE

A beleza é o prazer dos fazeres e dos feitios
é a sensação das idéias e dos ardores
A poesia é ver de perto o que está longe
o aqui e o ali nos tempos e lugares
Alguém atônito apalpa os negrumes
a solidão é a cidade dos amigos
É assim que de um momento para outro
o maravilhoso sobe na goiabeira
os tigres descolam-se dos quadros na parede
dando lugar, ali, à revoada dos passarinhos
Quantos poetas nas palavras de Sebastião Milagre
vão às esquinas procurar o que não perderam?
quantos poemas conversam na saudade das pessoas
que vieram da roça? Às vezes rezam no cemitério
depois cantam nas vozes mais distantes
depois voltam para as casas verdes da infância
e são novamente imbuídos de luz e energia...
Quantos poetas na poesia dele!
Quantos poemas na sede e na água!

As doçuras outrora assíduas repontam dos medos
e sombras, como diria Salvatore Quasimodo
no relance de suave mulher envolta
em flores fugidias.
Sempre a caminhar para o cemitério,
que é o nosso destino, nosso desterro,
ele entra na poesia que o ampara
e que lembra os quadros de Wu Tao-Tzu
nos quais os cavalos galopam para os horizontes
as folhas movem-se face à nossa respiração
o dragão voa para o céu, que vem a seu encontro:
assim ele caminha para dentro do poema
que acabou de escrever
como o pintor que entra para dentro do quadro
que acabou de pintar:
assim tanto um como o outro jamais serão revistos
nos lugares que tanto vivificaram.

1 Comments:

Blogger Claúdia Maria said...

Boa tarde!Meu nome é Maria Claúda e estou me iniciando como escritora amadora,busquei algo sobre Sebastião Benfica e vi-me aqui,diante de palavras tão belas.Fico feliz porbuscar algo e encontrar o melhor do que preciso.Obrigada.

4:18 PM  

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