segunda-feira, agosto 29, 2005

2 – OS ENCANTOS DO TERROR

Notas de Um Leitor de Edgar Allan Poe (*).

O espírito cósmico paira
(é todo um sussurro de luz),
baixa e sobe e torna a pairar
ao sabor dos ares mansos e bravios
encarnando e desencarnando
nos seres vivos (vale dizer na vida planetária)
insuflando e amortecendo
na parte física da alma as meditações
: daí é que vem o peso mortal
Sobre os sonhos as árvores os telhados os gatos
Sobre a folgança lilás do sol sem nuvens
Do entardecer sobre o rio e suas matas ciliares.

A lua que vai pelos caminhos da noite
afasta-se dos ocasionais torpedos e ribombos
as vozes da ventania não encontram respostas
na montanha estufada
As folhas que crescem na palma da pedra
Os temores que brotam na sola dos pés...
E se a massa de éter que vem pela janela
pegasse fogo de repente?
Quem não pode despreender-se dos laços sociais
e ficar sozinho algum tempo?

Os círculos menores dentro dos maiores
: assim começa e prossegue a dança
do infinitamente grande dentro do infinitamente pequeno.
Desde sempre e para sempre lá estará
bem no centro de um e de outro o poeta
Edgar Allan Poe
nas escarpas das risonhas montanhas
nas veredas dos vales sombrios,
a contemplar a solidão e a natureza,
a contemplar-se.

E assim foi traçado o jardim sobre o corpo
Da jovem que dormia na areia...:
entre a água e a relva
o céu a florir, o rio a fluir:
assim como quem ama a vida
(só quem ama a vida pode ver
Os detalhes desse jardim).

(*) Deus (Baudelaire, em seu artigo sobre Poe, emprega a palavra Natureza em vez da palavra Deus) mostra-se muito enérgico e rigoroso com quem deseja extrair grandes e belas coisas. Foi assim com tanta gente ao longo do tempo, mas referentemente a Poe não deixou por menos: fez com que ele vivesse (sofresse) na primeira metade do séculos l9 justamente nos Estados Unidos da América do Norte, o país das astúcias do pragmatismo e das farpas do arrivismo.

O poema acima foi inspirado na leitura do livro “Edgar Allan Poe- Ficção Completa – Poesia e Ensaios”, tradução de Oscar Mendes e Miltom Amado – Editora Nova Aguilar, RJ, 200l).

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

intiresno muito, obrigado

7:06 AM  

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