segunda-feira, agosto 29, 2005

16 - A ARTE DE PERDER (*)

Perder é uma arte que temos de aprender: o que se há de fazer? já nascemos com a índole da perda! Perde-se rios de coisas, todo dia. As palavras que não dizemos na hora certa, o beijo que deixamos para depois. Aceitamos de bom grado o risco De perder a chave e a hora – muito mais que isso é a juventude que se foi. As coisas se perdem nas incertezas: O olhara de quem vai na contramão O lugar onde vamos passara as férias. Uma vez perdi o binóculo da infância, depois a casa e o quintal da avó (o porão misterioso, a mangueira assombrosa). Perdi dois seios bonitos na varanda, Depois a sequência do flerte arraigado Do amor que era mais que amor. A você, quantas vezes perdi, sem jamais ganhar? Quantas vezes perdi?! 

(*) Paráfrase do poema “Uma Arte”, de Elizabeth Bishop, em Poemas do Brasil, de Paulo Henriques Brito, Companhia das Letras, SP, l999.