segunda-feira, agosto 29, 2005

45 - PARÁFRASE DE DYLAN THOMAS

A velhice devia gritar aos quatro cantos
exorcisar as rugas e calvície, devia inflamar-se
contra os prenúncios da escuridão aproximativa
devia gritar aos jovens trepados nos muros:
não compartilhem mansamente da noite boa.

Mesmo os sábios que choram a impotência
de suas idéias, que não captaram na redoma
uma amostragem de sol diferente, mesmo eles
deviam, encolerizados, recomendar, indignados:
não compartilhem mansamente da noite boa.

Muitos homens de bem, agora arrependidos
porque se deixaram levar,agora sublevados
contra a opacidade do que era translúcido,
eles também deviam subir nas tamancas e advertir:
não compartilhem mansamente da noite boa.

E os poetas que alcançam a seta em pleno vôo,
eles que não descansam, que melhoram na verdade
a própria iluminação, eles que tentam mudar
o que já foi mudado, eles deviam estribilhar:
não compartilhem mansamente da noite boa.

E ao nosso pai do céu e da terra,
rogo que me abençoe ou amaldiçoe,
mas que não me deixe ser moderado,
que não me deixe aceitar a luz sem energia,
nem compartilhar mansamente da noite boa.