segunda-feira, agosto 29, 2005

37 - A LICENÇA POÉTICA

A noite não é o funeral nem o sepulcro do dia,
é a parte azulada da vida vermelha.
Longe dali a sanidade açucarada, a face angelical
Da vexatória juventude.
Perto dali a boca no lugar do amor,
as escamas dos lábios e os interstícios
úmidos e pregueados,
a justaposição molhada e vermelha
(as secreções estancadas por enquanto?),
os estrépitos cadenciados dos fulgores
a forja das emoções subindo e descendo
sobre o braseiro da mais recente paixão.

Depois de dois dedos de prosa
ah já vinha
o prazer merecido depois de tanta sofrida beleza
ah já chegava
o prazer merecido depois de tanto sofrer a beleza.

Se a palavra estiver do lado que o sol bate,
é mais visível.
Se surgir do lado oposto ao da lua cheia,
é mais audível.
O amor não tem nada a ver com as outras pessoas,
Só com nós dois no momento dele.
A amplitude escorrega do contexto
A vida social é esparrodada, violenta
Os amantes precisam comer-se um ao outro,
de vez em quando
na bitaca do sossego.
Não quero falar (para não dissipar)
do instante em que ela tirou a roupa
(foi isso mesmo que ela fez?).