segunda-feira, agosto 22, 2005

PESSOAS CARISMÁTICAS

Uma famosa quiromante de Paris na década de 20, tomando a mão de Proust (fina, branca e imaterial como a descrevem os que de perto conheceram o escritor), disse-lhe: “Eu nada posso dizer, o senhor é que poderá descrever minha vida e o meu caráter”.

Nietsche também era assim portador de uma luz especial. Uma vez na feira impressionou-se com a velhinha verdureira, que não o conhecia nem jamais ouvira falar em filosofia, escolhendo no balaio os cachos mais bonitos e suculentos de uvas que ele ia comprar dela, mesmo sem escolher.

Na verdade os seres vivos, mesmo os da mesma espécie, não são exatamente iguais, sempre há um gato mais bonito do que outro , um cão mais inteligente na família, um pássaro mais cantador. O futebol é pródigo de jogadores excepcionais, selecionados em cada time. Lembro-me de ver Tostão correndo com a bola nos pés para dentro da área adversária e de repente a bola estava aninhada na rede, sem que percebesse o momento em que ele chutara: como se o chute fosse apenas mais uma passada na direção do gol. E o Ronaldo, o melhor do mundo? Se um monte de jogadores vai na bola no ar ou no chão só a cabeça ou os pés dele alcançam-na em cheio. E o nosso querido Alex do ex-Cruzeiro, que parece ter olhos na nuca, pois mesmo sem olhar ele sabe onde a bola está e onde vai mandá-la.

Um personagem de Edgar Allan Poe acompanhava o pensamento de uma pessoa depois que essa pessoa dissesse algumas palavras e calasse. Mas o Poe é um caso à parte (sobrehumano?). Charles Chaplin, outro dos luminares do século 20, cineasta fabuloso, músico, poeta, humorista de fama mundial, amado e aplaudido por crianças, adultos e idosos, foi maravilhoso em quase tudo, menos num particular que manchou um pouco sua biografia. Mas isso é facilmente debitável à parte de carne frágil da natureza humana e à chamada licença poética por tantos cometida constantemente: talvez ninguém tenha dito, mas eu digo: ele foi, além de todas as maravilhas de sua pessoa, um conquistador barato de mulheres caríssimas. Seu sogro, Eugene O’Neil, outro gênio da dramaturgia moderna, odiava esse lado pegajoso dele, o de ferir as pessoas próximas, mesmo brindando toda a humanidade através de sua arte excepcional.