A CULTURA AO ALCANCE DE TODOS
O Movimento AGORA, como o próprio nome indica, é sempre um evento intemporal, mas que em sua particularidade foi instaurado aqui em 1967, não tendo, no entanto, em sua generalidade princípio nem fim. É o movimento da vida com suas específicas leis naturais estudadas pela Física, pela Filosofia, pela Psicologia e vividas pela Arte através de seus instrumentos e linguagens. Foi instaurado aqui com a publicação do primeiro número do Jornal Literário AGORA em agosto de 1967, - e já no seu primeiro editorial, almejando o levantamento de um vôo ao nível de toda a modernidade da época, publica suas intenções de um não apressado alinhamento político-ideológico, mas sim as intenções de um consistente alinhamento poético-ideológico a favor do predomínio da Verdade e da Beleza nas ações humanas válidas até os dias de hoje, conforme está, lá, bem enfatizado nas palavras válidas até os nossos dias: “Uma luz fluiu de muito longe, tomou a direção de nosso tempo e hoje nos encontra diante da mesma treva que paralelamente fluiu, e essa luz progressivamente enriquecida de intensidade, olha conosco a perplexidade do homem no mundo. Essa luz, de pétala (ou de grão) em pétala (ou de grão em grão) aos poucos se fundiu no que hoje certamente é uma árvore, uma rocha, mas ainda há muita insuficiência em nós, muita fome e muita sede”. A linha do jornal estabelecia, assim, uma linha de ação cultural, associando a intelectualidade à literatura ao alcance da popularidade, finalmente desligada da torre de marfim, onde a tradicional cultura de elite selecionava e bafejava os laureados da patota e excluía as vocações sempre minimizadas e periféricas, concorrendo assim para perpetuar o quadro de carência dos valores que poderiam disseminar os princípios da verdade e da beleza em todo o contexto social, associando as culturas popular e livresca no mesmo patamar de importância, ou seja, lá onde podia ficar ao alcance de todos. Depois da publicação do primeiro número,o jornal passou a ser requisitado e distribuído extra-municipalmente, para os escritores novos e consagrados de muitos outros municípios mineiros, várias capitais do País, muitas cidades das Américas, da Europa, da Ásia e da África, graças a endereços e recomendações de escritores e de anúncios (gratuitos, claro) de órgãos da imprensa especializada de toda parte, a começar pela Revista da Biblioteca do Congresso de Washington. A partir, do segundo número as páginas do jornal passaram a receber as colaborações dos novos autores de Itapecerica, Oliveira, Guaxupé, Patos de Minas, Uberaba, Pirapora, Belo Horizonte, Juiz de Fora , Cataguazes, Salvador, Rio de Janeiro, Florianópolis etc, além dos autores locais, de espaços gráficos cativos. Dois anos atrás o nosso prezado amigo Doutor Pedro Pires Bessa publicou o livro TEXTOS E RESSONÃNCIAS, onde reproduz em tipografia reduzida a totalidade dos números publicados e parte da correspondência recebida do estrangeiro, solicitando assinaturas e anexando textos para publicação. Ali estava, pois, felizmente, uma literatura (elogiada por autores da estirpe de Drummond, Murilo Rubião, Laís Corrêa de Araújo, Ana Hatherly, Dantas Motta), sem os malabarismos de praxe em outras redondezas, honesta e palatável, legível e inspiradora, e sobretudo com a virtude de estar ao alcance de todos. O caminho é longo e continua a ser palmilhado através das ressonâncias captadas pelo amigo Pedro. Mas retroagindo um pouco aos nossos dias, ou seja, duas ou três décadas após a circulação do Jornal, alguns elementos do mesmo Movimento foram reunidos pelo poeta Oswaldo André de Melo, então Secretário de Cultura do Município de Divinópolis, para estabelecerem e nortearem os parâmetros de uma cultura primordialmente municipal aplicável aos Municípios regionais através de debates em encontros periódicos dos representantes especializados. O que na verdade aconteceu em Divinópolis, Itapecerica, Cláudio, São Gonçalo do Pará, Bom Despacho, Nova Serrana, Arcos, Pains, Formiga, com inegáveis saldos contentatórios. Cada representação indicada pela respectiva administração municipal apresentava uma espécie de identidade , ou seja, a relação de dados genéricos como extensão territorial, fontes de renda, lineamentos históricos, demográficos, estatísticos, educacionais, sanitários, religiosos, ecológicos, criminais, turísticos, festivos e recebia, para examinar e responder, propostas e sugestões de prioridades culturais a serem adotadas e mantidas em cada município, tais como: a criação e a manutenção de uma secretaria ou Departamento ou Seção (especificamente) de Cultura, com as principais e festivas atribuições de criar e manter uma biblioteca pública, um salão de exposição de artes plásticas, um acervo de antiguidades locais num museu, um salão com palco para encenações teatrais e declamatórias e musicais, um arquivo público, um serviço de preservação do patrimônio histórico e paisagístico, uma publicação periódica das produções culturais e artísticas . As reuniões foram realizadas em cada uma das cidades citadas, com muito sucesso – e a troca de conhecimentos e de influências demonstraram inequivocamente que este é o caminho prático e plausível de se fazer com que o espírito humano não seja abalroado nem soterrado pela brutalidade material, mas que ao contrário, possa pairar e brilhar em toda parte, atenuando aqui, ali e acolá os tons pesados e sombrios de uma escuridão cegante que às vezes ameaçam o nosso desejo de claridade, de salubridade.
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