LITERATURA E SOCIEDADE
Revendo velhas notas redigidas sobre os grandes trágicos da modernidade, entre os quais Dostoievski, Proust, Dickens, Thomas Mann, Marcel Camus, Pirandelo, Joyce, Brecht, Virginia Wolf, Ibsen, Yourcemar, Eugene O’Neil, Artur Miller, Tennesse Willians, , Kafka, Freud, Borges, Lorca, Rilke, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto,Drummond, Mário de Andrade, Clarisse Lispector, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa, Murilo Rubião etc, lembro-me das palavras de um crítico (se não me engano, o Cyro Siqueira) sobre o mundo ficcional de William Faulkner, no qual é impossível viver sem perder, constantemente, a sanidade física e mental. Pois é este o nosso mundo, independentemente das interpretações do crítico e do próprio romancista: um produto exclusivo das políticas governamentais de nosso tempo na maior parte do mundo e particularmente no Brasil. Às vezes fico observando as pessoas nas ruas e até me admiro de não estarem, todas, doidinhas da silva. A angústia que então me assalta quase me adoece – e tenho que forcejar muito para não perder a fé em Deus e nos homens. Fico pensando, por exemplo, nas pessoas mais velhas, em como elas agüentam tantas cobranças das mais jovens. Seriam culpadas pelas trapalhadas da vida social contemporânea? Penso, também, na situação quase claustrofóbica dos mais jovens, confinados em si mesmos, sem pontos de vista e de apoio, sem perspectivas de horizontes descortináveis...: como eles aguentam segurar essa barra e recalcar tantas limitações? E as crianças de nossos dias? Sorriem na beleza e na doçura, inocentes da realidade. E os jovens, adultos e idosos que também conseguem sorrir na doçura e na beleza das coisas de graça oferecidas pela natureza, apesar dos abismos que estão fora da moldura risonha? Penso que são os heróis de nosso tempo, eles que conseguem saltar os obstáculos, atravessar ruas, trevos, rodovias, os meses e anos, sem se atropelarem, sem se estreparem. São os personagens de Dostoievski, de Faulkner, de Nelson Rodrigues. Um sociólogo que tivesse tempo e dinheiro, paciência e talento, bem que podia levantar as causas e efeitos dessa tragédia brasileira, traçar a radiografia e apontar o diagnóstico, sabendo de antemão que toda a sangria do sofrimento é culpa exclusiva do modelo errôneo de governar os lugares e as populações. Quando penso, com base no que aprendi em anos de vida e estudos, percebo claramente que a administração pública brasileira vem errando desde o Descobrimento, e errando muito mais nos dias atuais, quando se desobriga de proteger a terra e o povo e se ocupa, de forma categórica, acintosa e desavergonhada na fabricação dos apocalipses embutidos na corrupção que campeia de alto a baixo, no encaminhamento das medidas desleais e desonestas que atritam as convulsões do desesperante desemprego crônico, do favorecimento da corriola de corruptos encastelados nas salvaguardas hediondas dos três poderes maculados que projetam e executam em alta recreação as manjadas medidas da chamada responsabilidade fiscal, do chamado superávit primário, medidas que resultam no deprimente quadro da crise exposta e não resolvida pelas comissões parlamentares de inquéritos, ou seja, na perpétua compra de votos de vereador a presidente da República, através do superfaturamento das obras (que para eles são apenas meios e não fins). É um quadro tétrico, de filme de ação da máfia dos cleros e partidos que, de Brasília, dão ao resto do pais o mau exemplo do tal caixa dois que já faz parte da nossa cultura, como eles alegam. Depois de saquearem a Amazônia e a própria dignidade do povo, estão agora empenhados na destruição do Rio são Francisco e do Pantanal, isso sem falar no sucateamento das ferrovias e rodovias e da nefanda incentivação da criminalidade impune a partir da própria elite política. Meu deus!, e ainda ficam insolentes quando alguém mostra que estão nus e feios, feiosamente nus. eles: fhc, azeredo, lula, zédirceu, genoino, etc,( infinitamente etcétara?): eles, mesmo enfatiados, estão despudoradamente exibindo suas vergonhas. Ái de nós. Vergonha nossa também?!
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