A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA
O Professor (em Divinópolis, Itaúna, Belo Horizonte) Antônio de Oliveira esteve recentemente em nossa cidade, participando de um evento cultural do Curso de Letras do INESP, organizado pelo Doutor Pedro Pires Bessa. Na oportunidade relemos suas crônicas suplicadas no AGORA Literário do final da década de 60, que tanto influenciavam os leitores mediante a boa qualidade dos textos, tanto na escorreição da linguagem quanto na estilização do enfoque consciente, maduro e alentador. Tempos difíceis aqueles da década de 60? O que terá mudado para melhor neste quase meio século? É doloroso reconhecer que praticamente mudou muito mal. Até parece que o mundo corre em volta de si mesmo, como um cão atrás do próprio rabo? Mudam as formas, mas os conteúdos são sempre os mesmos em pioradas edições? A mesma classe dirigente gananciosa impondo seus desaforos a uma classe dirigida desvalida, perdida como cego em tiroteio, desferindo, também, seus errôneos, descalibrados petardos? Uma oposição política que se torna situação – e a situação continua discrepante, injusta, irrisória? Perdão, leitores, se resvalo nos obstáculos.
Ainda há pouco falávamos do professor-escritor Antônio de Oliveira.
Tenho em mãos seu livro O HOMEM E A ÁGUA – Uma epígrafe para o Itaunense e o São João. Tenho a dizer, nestas entrelinhas, que Divinópolis sentiu a falta dele como pessoa e professor – e até parece que o fato dele deslocar-se para Itaúna influiu no fato (lamentado por muita gente daqui, na época} de nossa cidade perder justamente para Itauna a patente de Cidade Educativa de Minas num concurso nacional então promovido pelo Ministério da Educação, honraria que merecidamente ostenta até hoje.
O livro fala belamente (e verdadeiramente) sobre a desolada, lamentável destruição de mais um dos rios por assim dizer históricos de Minas. Depois do Rio Vermelho, de Itapecerica, do Pitangui, de Pitangui e do Itapecerica, de Divinópolis, o São João, de Itauna, também agoniza no flagelo da sede de um solo desmatado, um lençol freático minguado, um ar seco e às vezes inclemente, além de poluido. Poluição, aliás, que emporcalha e corrói as três dimensões (subsolo, solo, ar) dos lugares de nossa vida cotidiana.
Ao prezado Antônio de Oliveira desejo, no entanto, erguer um brinde: ninguém até hoje escreveu texto mais belo e verdadeiro, verde e azul sobre o cinza-amarelo da dessacralização da natureza.
Na página 27 ele registra a constatação: “O São Francisco, rio da unidade nacional, diminuiu sua vasão em cem metros cúbicos por segundo, em 46 anos; o Rio Pará, em vinte metros cúbicos por segundo. E o nosso ex-rio São João, atual ribeirão, candidato a córrego, poderá vir a secar”. E na página 44 ele grava um necessário décimo primeiro Mandamento: “Herdarás o solo sagrado e a fertilidade será transmitida de geração em geração. Protejerás os campos contra a erosão e as florestas contra a devastação. Impedirás que as fontes sequem, que as espécies animais se extingam, que o fogo devaste os campos”.
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