sexta-feira, janeiro 20, 2006

ALGUMAS LIÇÕES DE ARISTÓTELES

Numa tardia mas certamente ainda oportuna leitura da Arte Poética de Aristóteles (texto integral da edit. Martin Claret, SP, 2004), pinço algumas considerações para uso próprio e proveito dos leitores-aprendizes-de-poesia-como-eu. Seguintes: - O erotismo e a pornografia na poesia têm suas origens, certamente, nos cantos fálicos citados na página 32, espécies de farsas licenciosas e satíricas “que não eram feitos para as virgens” nem recomendados para menores. - A beleza contém em si a magnanimidade e a grandeza (e a verdade, eu acrescentaria, a qual no entanto pode prescindir da magnanimidade e da grandeza). - A beleza da tragédia advém da complexidade de sua composição e não da simplicidade. - O temor e a compaixão, e também o terror, são os principais condimentos da tragédia. - Clitemnestra, irmã de Helena, e esposa de Agamenon (por ela assassinado com a ajuda de Egisto) é morta, em vingança, por Orestes. Todos participam do elenco de escol dos personagens de Ésquilo e Sófocles. - Aristóteles condena o emprego da perversidade gratuita, como sendo um recurso antinatural. Ao que tudo indica era raro em seu tempo tal procedimento, que hoje é recorrente e banalizado. - A poesia reclama ânimos bem dotados ou capazes de se entusiasmarem. - O Coro representava um dos atores. Seus cantos são como interlúdios no contexto. - Por tantas razões Homero é admirável, entre os quais o fato de evitar contar por inteiro a guerra de Tróia. - As idéias fecundas sobre a arte influenciam o conhecimento humano desde o séc. IV a.C. O poeta pode mascarar o absurdo por meio de atavios, intercalando o verossímil com o irracional. - Quando o incrível é digno de fé, segundo Píndaro: “a graça do discurso espalha sobre as sedutoras mentiras da fábula uma beleza persuasiva, e então até o incrível se torna digno de fé”. -A metafísica aristotélica reformula a noção do ser, contrariando Parmênides, que afirmava que o ser era necessariamente único. Os atomistas (Demócrito e outros) defendiam que o ser era tanto o corpóreo (os átomos) como o incorpóreo (o vazio). Para Platão o não ser seria o outro, a alteridade, que complementa a própria identidade. A dúvida hamletiana, ser ou não ser, fica fora de questão, pois ser e não ser se complementam. Proposição que Aristóteles reforça, acrescentando a concepção analógica, ou seja, a de que o ser é dotado de diferentes sentidos, diversas acepções e categorias, aprofundando a noção de amplitude (imponderabilidade?) do conhecimento. Aristóteles nasceu em Estagira em 384 a.C, filhode Nicômaco (por que quase nunca acrescentavam o nome da mãe? O machismo é tão antigo assim?) – e faleceu em 322 a.C. Faleceu?, ele, imortal? A GRANDEZA É NECESSÁRIA Fico às vezes, dialeticamente, a esquadrinhar blocos temáticos, avaliando comportamentos segundo uma determinada régua e um compasso discutíveis genericamente, mas plausíveis particularmente. Num grupo de pessoas (família, colegas de trabalho ou de estudo ou de lazer), por exemplo: vou lembrando e instintivamente analisando e classificando, segundo as três categorias principais assomadas em minha precária opinião para a definição dos caracteres pessoais: os que assumem a baixeza, os que se elevam ao patamar da grandeza e os que se planificam na mornidão da mediocridade. Quase sempre o resultado é humanamente desonroso e deprimente: 50% estão atolados até ao pescoço na mediocridade; 30% assumindo, desgraçadamente, o nível hediondo da baixeza comportamental e apenas 20% preocupados em manter e aperfeiçoar as virtudes que Deus tinha dados a todos, mas que só essa minoria conserva a duras penas, neste mundo inóspito ( conserva apesar dos pesares, com o recalcitrante amor e a penosa obstinação). A grandeza de caráter nas pessoas: é só reparar e perceber. Já a baixeza dos outros salta aos olhos, repugna os olhos das pessoas não atoladas na barrica das imundícies comportamentais.