DOIS LANCES (*)
Eis abaixo o que julgo ser um dos primeiros poemas de Oswaldo André de Melo, publicado no “Diário Mercantil” de Juiz de Fora em 08/07/1969. Escrito na ocasião de uma visita que fez à minha mãe, quando o arraial era mais antigo e bucólico.
“RECONHECIMENTO DA TERRA
(p/ Lauzinho porque Marilândia é dele com todo seu entendimento).
primeiro a objetiva
da máquina fotográfica
guardará os verdes
diversos da terra
- o cansaço as lajes
menininho jesus
são pedro afundado
na pedra na fé
do povo – o rio:
água limpa para
a sede areia na rasura
para os pés viajantes
- a máquina fotográfica
perpassa a laranja
leite tirado na hora
as falas do sabasquá
bordado inácio solteiro
- depois beija a face
da virgem barroca
seu séqüito de são
sebastião sagrada família
nosso senhor escondido
na gaveta: aguardo da morte
na semana santa
decifra os cabelos
de angélica corpos do
sino suas vozes
- a máquina fotográfica
entre o forro da igreja
nossa senhora do desterro
o pagode no meio da noite.
Em seguida, uma tentativa de poema deste bloguista, publicado no mesmo jornal de Juiz de Fora em 11/10/1968, na coluna dominical intitulada genericamente de “Poesia de Vanguarda” - vanguarda na época, é claro.
DOIS LANCES DE MOÇA
(para tática: lázaro barreto).
Ela olhando: se essa rua fosse um rio
e me levasse para mim,
o chão erétil sob os pés
na manhã colegial,
é absurdo existir assim
a fruta do meu ser
em dia tosco-bobo, e todos
me verão enxuta na chuva
sorrindo o poema geral.
Ela olhada: de dentro para fora a vibração
do que na epiderme exulta,
exasperando sem contatar,
nem é bom pensar é tessétera
nos recônditos ônditos
mussica cantada inaudível
vem ela reversível desenhando
um sistema de carícias que
punge na epiderme e derrama
a cor da fala e filtra
águas do murmúrio universal
é tessétera e etcetéra.
(*) Mantínhamos em Divinópolis, naquela época, um jornal literário chamado “AGORA”, através do qual intercambiávamos publicações com outros jornais literários do Brasil e até do Exterior. Em Juiz de Fora os amigos (afeiçoados, de ambas as partes até hoje, graças a Deus) editores eram Wagner Corrêa de Araújo e Clevane Pessoa de Araújo).
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home