quinta-feira, fevereiro 21, 2008

PÍLULAS DA VIDA

- O alto daquela serra espera por mim, anos e anos. Quando irei lá, para ver de perto a camada de verdes palavras sobre a pedra escurecida e inconsútil, esférica e acolhedora? Quando irei lá descansar minha cabeça sobre a linha dos musgos sombrios? - Frio na alma, por que não estás comigo? – Canta, lamentoso, o bolero. - Por que uma boa estória arranca-me lágrimas e não sorrisos, quando a estou lendo, ouvindo ou vendo? Chorar diante da tristeza é normal, mas sentir a prevalência das lágrimas mesmo diante da alegria, não é contraditório? - Píndaro (muitos e muitos anos antes de Jesus) já sabia que a água é o mais nobre dos elementos. - A resignação é um pequeno e furtivo suicídio, como queria Balzac? - De uma coisa Conan Doyle tinha certeza: em toda história de crime o Mau Gosto é o personagem principal. - Moscas, elefantes, homens: tudo igual, como diria La Fontaine. - Se tens cabeça de manteiga, não seja padeiro, como lá diz o ditado. - É verdade o que Francis Bacon diz em sua obra: que toda beleza tem alguma desproporção? - Com quantos tolos se faz um público? – Eis a pergunta irrespondida de Goethe. A palavra PROGRESSO não está ficando, sob o ponto de vista ecológico e até humanístico, cada vez mais pejorativa, uma vez que dá nome a uma ação predatória contra a natureza e contra o bem estar social dos seres vivos do planeta? Tomemos Divinópolis como exemplo. Sempre foi considerada a cidade progressista por excelência, com o oba-oba e o viva dos que pensam apenas no presente e acham que o futuro é algo abstrato, que só a Deus pertence. Acontece que o próprio Deus está sendo atacado e destruído (se isso é possível) pela ação nefasta dos agentes do progresso. É uma cidade que sempre sofreu da ausência de previsão da classe dirigente no que concerne ao uso do solo urbano. O afã de levar vantagem em tudo propicia o irrompimento dessa selva de pedra no centro da cidade, onde cada edifício tira o ar e a luz do outro – e todo lote vago ou casa horizontal não passam de potenciais espigões. A cidade não desfruta de infra-estrutura para suportar o peso de tantas edificações. As redes de água, de esgoto, de energia elétrica foram projetadas e construídas quando a cidade era horizontal e tranqüila, sem o congestionamento do trânsito e dos pedestres. O que resulta é o marasmo, a sujeira incontrolável, o entupimento das bocas de lobos e das vias subterrâneas, as interrupções do sistema elétrico, o estresse social e não apenas individual. Que continue a crescer, mas horizontamente. A frase “devastação da natureza” é mais uma das copiosas e multifacetadas denominações do que antes queria revelar apenas a luta pelo progresso material da natureza humana. Hoje, diante das ações nefastas e funestas, constantes e volumosas, vulgarizaram a terminologia de tal maneira que o impacto dos malefícios caiu no jargão da normalidade imposta e consentida do indiferentismo social. Está chegando o tempo que a própria ação desnaturada (cortar árvores, jogar lixo no rio, matar seres vivos) é recebida e consentida como sendo algo trivial e natural? E quase ninguém move uma palha contra. Haja Deus!