quinta-feira, março 20, 2008

OS DOIS LADOS DA MOEDA

1 – A importância da cidade de Divinópolis como pólo regional: enquanto continuar polarizando a região, continuará progressista, com boa circulação monetária. Não há pessimismo quanto a isso, uma vez que na região não existe outro município que possa competir em termos de estrutura logística (boa localização geográfica no contexto territorial estadual). Essa é a parte positiva da cidade. A negativa é a ausência de eficientes serviços públicos, como segurança, saúde, estética, ética, infra-estrutura e proteção ambiental. A parte positiva é a oferta educacional prodigiosa: muitos órgãos atuantes em todos os níveis, tantos que chegam ao ponto de a quantidade estorvar a qualidade – o que precisa ser pensado e corrigido. A cultura também tem boa representação: muitos escritores, jornalistas e artistas conceituados, em assídua atividade. Destaque para os nomes intermunicipais como os de Adélia Prado (cortejada até no estrangeiro), Oswaldo André de Melo (se ele “aparecesse” mais na mídia, seria certamente considerando um dos melhores poetas brasileiros da atualidade), Fernando Teixeira, Pedro Pires Bessa, Lindolfo Fagundes, Mercemiro de Oliveira, Antônio Domingos Franco, Yara Ferreira Etto, e Outros. O que de melhor ficou na história municipal, até agora: a ação política de homens públicos íntegros e competentes como Antônio Olimpio de Morais, Antônio Gonçalves de Matos, Jovelino Rabelo, os Franciscanos, Walchir Jesus de Resende Costa, Antônio Martins Guimarães, Galileu Teixeira Machado e João Augusto Dias. O que ficou de pior: o pragmatismo da classe dirigente que sobrepõe o interesse do lucro financeiro à qualidade de vida da população, instaurando uma das maiores poluições urbanas do Estado de Minas. O traço fisionômico preponderante da cidade: a indiscriminação que, se por um lado proporciona muita liberdade aos munícipes, por outro lado descaracteriza uma cor local definida em termos de cultura popular que, aqui, miscigenada (constituída de fragmentos), não se aglutina num todo homogêneo. Isso porque a população é na maioria adventícia, formada de outras heranças culturais, resultando, por isso, numa espécie de mosaico mimético (como deixei bem claro em meu livro “Memorial de Divinópolis”). Essa deformação está se tornando corriqueira em muitas partes do País, através do crescimento desordenado das grandes cidades, resultando na engrenagem caótica que é a chamada Região Metropolitana, em que todos municípios apensos sofrem as conseqüências dos refugos e desregramentos comportamentais de uma população desnorteada e desassistida. 2 – O outro lado da moeda histórica, que geralmente é ignorado ou camuflado nas pesquisas, fica subentendido nas entrelinhas das narrativas, e só assim nebuloso chega ao leitor e ao estudioso da História. As omissões, contrafações, acintes e abusos ficam na meia-luz da surdina que o correr do tempo dilui e quase apaga. No decorrer dos quinhentos anos da história brasileira: quantos acontecimentos negativos foram obliterados, sem falar no incrível genocídio dos índios e dos quilombolas? E na História do Estado de Minas (o desmatamento, a mineração, entre tantos outros desmandos)? E na História do Município de Divinópolis? Para não ir longe no tempo e no espaço, levantamos apenas algumas perguntas: quem aprovou o loteamento urbano de grande parte da área rural do município, sem o menor critério, criando o caos atual em toda a periferia? Quem autorizou a construção de imóveis na beira do rio? Quem autorizou a construção de muitos blocos de quatro pavimentos em apenas um lote quando a Lei prevê a construção de apenas um prédio de quatro pavimentos em cada lote? Quem autorizou e continua autorizando o calçamento irregular em todas as ruas, de tal modo que o mesmo apenas acompanha as saliências e depressões do solo, sem nivelá-lo como seria necessário? E esse asfalto chinfrim, de terceira, quando o projeto prevê um asfalto de primeira? Quem só fez coisas ruins, quando foi eleito para só fazer coisas boas? Quem vai reescrever a História, sem mistificá-la?