28 - OBRIGADO, DRUMMOND!
Nos quarenta mil anos de arte moderna
procurávamos no mineral país de Itabira
a imagem retroativa e persistente
da folha verde dentro da pedra madura.
Procurávamos com as pernas as mãos a cabeça
as excitações,os combustíveis para novas procuras
de novas excitações.
Sabendo que é na prática do dia-a-dia
que reunimos os elementos dos sonhos,
sondávamos as grutas do Levante Espanhol, da Lagoa Santa,
em busca do papiro das ansiedades, da tábua das leis
(o livro-messe, palimpsético, que transborda da estante,
Esparrama na casa, inunda a rua).
Insones e obstinados, procurávamos em vão.
Ainda hoje a sede da vida está nos cabelos, nos louros cabelos da fenícia Dido?
Não varre as almas para fora, ela me dizia,
ela , a drummondiana poesia.
Os arraiais circundam as distâncias
As sombras são os silêncios do sol lá fora.
Assim os mundos arredondam
Os arraiais universalisam:
Não varra as almas para fora, ela dizia.
O amora é feito de música, tem a resposta
antes da provocação:
dois dedos de doçura
e
oito dedos de amargura.
Mas por mais que os sacerdotes escondem:
os erros de Deus aparecem nas entrelinhas,
e quem nos penaliza sequer imagina
se podemos suportar tamanho sofrimento!
Quem chega primeiro à base do instinto
(vê que a rua projeta vários filmes ao mesmo tempo)
ganha um doce metafísico,
essa farta e mansa chuva de versos
que semeia adeuses e caminhos.
Obrigado, Drummond!
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