segunda-feira, agosto 29, 2005

27 - A NUDEZ ACENTUADA PELAS VESTES

As mulheres
Os olhos verdes entre cipós igualmente verdes
Os cabelos dourados acima das roseiras podadas
Elas dizem tanto sem ao menos abrir a boca!
E por mais que se despem nos teatros e filmes
e nas chamadas revistas masculinas,
por mais que titilam nas escorrências,
algo delas ainda nos atordoa
(freudiano escândalo interior de nossa acanhada pessoa?)
na bela violência (por que estou a dizer violência?)
de umas nádegas nuas contra a parede de nossos olhos
míopes,
que vão ao sexo delas como uma língua
ou uma mão cheia de dedos.
Relutamos em aceitar a enternecida piedade
(tataranha?)
diante do par de coxas ligado pela fonte
do abismo das virtudes.
Refutamos a visão alumbrada dos seios elementais
(eu ia dizer alimentais?) e mesmo assim
olhamos novamente
para confirmar o enleio transversal do alumbramento.

O poema não é uma ressonância de reco-reco,
é o poeta no coração do reco-reco
não é um falatório de súplicas e lamentos,
é a esperança,
a indócil contigüidade dos afetos conflitantes
(dramática como o desforço inercial de um
Estômago vazio).
É assim que o passarinho surrealista canta nos dedos
De Paul Eluard e de André Breton.
Não há como discordar:
as mulheres, mesmo vestidas dos pés à cabeça,
andam nuas pelas ruas cotidianas,
aos sons do canto coral dos florais de Bach
- e perto delas assim vestidas e despidas
a própria lua nova é muito velha.