terça-feira, novembro 22, 2005

FIDALGOS MINEIROS

Os Ottoni, Descendentes e Colaterais (*)

Vieram de Portugal, originários da Itália, nas primeiras décadas do século 18. No histórico percurso deles no Brasil consta a passagem por São Paulo em 1727. Um deles, o Manoel Vieira Ottoni, nasceu no Rio de Janeiro em 1727 e em 1732 contraia núpcias no Serro (MG), com Anna Felizarda do Prado Leme. O casal formou o núcleo principal da família, que legou ao Brasil ilustres descendentes. De 1764 a 1786 Manoel e Anna tiveram 17 filhos (em apenas 22 anos!), entre os quais cinco com o mesmo nome de Anna, sendo as primeiras Anna do Prado Leme Ottoni e as outras com os apostos Izidóra e Felizarda. Os demais se chamavam José, Joaquim, Francisco, Manoel (dois), Thereza, Jorge e Antônio. Todos imponentes e importantes no contexto histórico (social, político e cultural) de mais de duzentos anos de nosso desenvolvimento, que se hoje dá-nos a convicção de emperramento é por esquecimento e não por lembrança deles, ou seja, pela ausência nos quadros decisórios da nacionalidade de pessoas da mesma estirpe e descortínio. De minha parte destaco principalmente a exuberante figura humana de Teófilo Benedicto Ottoni (1807-1869), filho de Jorge Benedicto Ottoni e de Rosália de Souza Maia, casado com Carlota Amália de Azevedo Cunha. Ele estudou no Rio de Janeiro e ao voltar à terra natal trouxe uma pequena tipografia para imprimir sua famosa gazeta “A Sentinela do Serro”, na qual defendia suas idéias liberais e democráticas em plena hegemonia imperial. Foi eleito deputado provincial duas vezes e duas vezes deputado geral (federal). Participou da célebre Revolução Liberal de 1842, na qual meu trisavô Bernardo José de Oliveira Barreto também participou, Movimento que terminou com a derrota dos rebeldes em Santa Luzia, no confronto militar com as tropas do Exército, comandadas pelo Duque de Caxias – e assim foi preso e depois anistiado (O Bernardo não chegou a ser preso, mas foi processado e teve os bens seqüestrados – cópias da documentação em meu poder). Trabalhei no Serro, com a Professora Maria Eremita de Souza (citada no livro de Laís, que estou abordando) numa pesquisa sobre a cultural popular de Minas – e fiquei boquiaberto no dia em que cheguei lá, indo de Belo Horizonte, já ao cair da tarde, sentindo-me como se retrocedesse no tempo e chegasse na plenitude de uma cidadela barroca no ápice do ciclo da exuberância aurífera das minas gerais. Na verdade o que sinto até hoje é que o Serro é a cidade histórica mais bem preservada de Minas, uma vez que o culto da arte barroca de viver ainda persiste e exorbita no próprio comportamento das pessoas e se espelha com fidelidade no paisagismo urbanístico. Naquela época (em 1992) os homens andavam pelas ruas de gravatas e as mulheres de chapéus, em plena luz do dia; não existiam as notórias lanchonetes de toda parte, apenas bares e botecos, nos quais os notívagos se embalavam aos sons da música de seresta e não dos metais globalizados. Hoje, depois dos desgovernos tucanos e petistas, não sei como anda a preservação do bom gosto lá, mas será uma pena se estiver, também, estereotipado no modismo tão rasteiro de nossos dias. Ah, conheci lá, na fonte da beleza, tanta beleza! Quem cultiva as boas coisas do passado, a arte, a religiosidade, a ombridade, a sociabilidade, a confiabilidade. tem que ir lá e ficar sabendo que estes valores não são fictícios, mas já existiram, sim. Conheci, entre tantos sítios e paragens encantatórias não só criadas pelas mãos divinas como também pelas mãos humanas. A Casa onde viveu o Teófilo Ottoni, por exemplo, é um venerando, um museu de preciosidades, e também os monumentos públicos erguidos pela Municipalidade para homenagear suas virtudes cívicas e operacionais. Foi lá que ele sonhava realizar o sonho (que realizou!) , como atesta Laís, “de ligar o sertão de Minas a um porto do mar, em linha reta, atravessando a mata virgem”. Assim, com denodo e competência, ele conseguiu chegar até a bela cidade que hoje ostenta seu nome, já quase nos umbrais de Porto Seguro, onde o Brasil nasceu. Depois foi eleito Senador e faleceu aos 62 anos, benquisto e glorioso. “Os detalhes da epopéia que foi a vida de Teófilo Ottoni, fogem aos objetivos deste trabalho, podem ser estudados nos livros “A Revolução de 1842”, do Cônego Marinho, e na biografia “Teófilo Ottoni – Ministro do Povo”, de Paulo Pinheiro Chagas.” Assim a autora conclui belamente seu belo livro. 

(*) O livro é de autoria de Laís Ottoni Barbosa Ferreira, publicado no Rio de Janeiro, em 1998.

PRIMEIRA VIAGEM AO SERRO (**). 
Anos depois, a subir a Serra do Cipó (à procura do que mais temia?). 
Os cabelos brancos doíam na cabeça (seriam ervas sapecadas de orvalho?). 
O céu nublado comprime o nó na garganta os liames enroscam as escarpas frontais as diferentes cores do vento ileso (estou mais erodido, anos depois?). 
Os abismos são belezas nocivas e tardias? 
logo chego à florença dos purgatórios medievais: tão linda serrania tanto tempo acordada! (os liames ainda enroscam as escarpas frontais?) 
O escasso gado a pastar a pedra farta... 
... estou mais remoçado, anos depois? 

(**) Poema que escrevi quanto trabalhava na pesquisa do livro inédito “Os Horizontes do Itambé – Cultura Popular nos Municípios de Conceição do Mato Dentro, Serro e Diamantina”, indo de Belo Horizonte.