quinta-feira, fevereiro 02, 2006

DECÁLOGO DA SEDUÇÃO IMPERCEPTÍVEL

1 – Não seja afoito se quer equilibrar os dados do cérebro e do coração. Quem quer pegar um pássaro não chega dizendo xô. Quem quer pegar um peixe não dá varada na água. Chegue mansamente, inspecione o terreno no qual vai semear seus sentimentos. Tenha o corpo esguio e lépido para abrigar a imensa imaterialidade da alma. Se a alma do(a) amado(a) não é pequena, um certo sacrifício vale a pena, como diria Fernando Pessoa. 2 – Não seja amargo(a) se espera ternura, nem azedo(a) se espera doçura. 3 – Cuidado com o andor, que o santo é sempre muito delicado. A generosidade excessiva leva a perda do pudor – Nietische já dizia. Quem tem pressa de dar, fica sem tempo para receber. Ir pela sombra é apreciar o sol melhormente. 4 – A promessa implícita é mais valorizada – e às vezes o presente está nela, na promessa ao mesmo tempo espontânea e implícita. 5 – Cuide bem do seu corpo, ele é que abriga e conduz sua alma cheia de luz diáfana. 6 – Não se canse na expectativa nem na ação. Nem canse a quem espera que o(a) deixe descansado(a). 7 – A melhor parte do que é bom tem que ser prorrogada. Todo santo dia tem uma santa manhã. É melhor saborear pelas beiradas do que devorar sofregamente. 8 – Lute jeitosamente pelo que quer. Uma vez conseguido o objetivo, continue a lutar, jeitosamente, para conservá-lo e/ou melhorá-lo. 9 – Só será amado(a) se souber amar. Às vezes negar é uma boa maneira de conceder. Só sabe amar outra pessoa quem ama e conhece a si mesmo – e tem interesse e paciência para conhecer (aos poucos e ao menos um pouco) quem vai merecer o seu amor. 10 – É sabendo que o amor de ambas as partes pode acabar, que você aprenderá a mantê-lo nos momentos de venturas e de intempéries. Que o seu amor seja um sonho para o seu sono, um fundo musical para o seu trabalho, uma descontração para o seu lazer – e que assim, bem conduzido, possa mostrar sua bela face de felicidade. 

Com o texto acima o autor pretende exemplificar como é fácil embrenhar-se no gênero da chamada auto-ajuda, tão rentável hoje em dia. Acrescenta, todavia, neste pé de página, que a facilidade, na literatura, é o apanágio da mediocridade, e que piamente acredita, nesta altura da riqueza histórica do inventário literário, que o desafio da dificuldade deve prevalecer nas intenções de trabalho dos novos autores, como é o caso dele mesmo.