sábado, setembro 16, 2006

OS PRIMÓRDIOS DIVINOPOLITANOS

Para os índios da época da colonização as chamadas pedras preciosas não eram diferentes das pedras comuns. É por isso que quanto mais aurífera a região, mais deserta era, uma vez que a infertilidade do solo pedregoso não propiciava uma rotina indígena de colheitas naturais de frutos e caças. Em nossa região o ouro brotava da terra e das águas do Ribeirão Vermelho, do Boa Vista,do Itapecerica, da Cachoeira do Caixão, do São João Acima e do Pará – e os índios ficavam de longe, ressabiados e ocultos, assistindo, impassíveis, em suas caiçaras e ocas no fundo das matas e barrancos dos rios. Machadinhas de pedra foram encontradas na Barragem do 48, na Serra do Cristal, na Baixada da Charqueada e no Quilombo do Morro Grande (entre o Gafanhoto e a Vila Romana), e urnas funerárias e outros fósseis foram recolhidos nas fazendas de Pedro Emídio e de Antônio Máximo, nas regiões dos Costas e do Inhame. Reza uma citação do século 19 que “a primeira coisa que seduz o homem livre é economizar para comprar um escravo”. E para exemplificar a pobreza, fala na pessoa que não tem ninguém para lhe buscar um balde de água, um feixe de lenha do mato, e dar sumiço dos excrementos nos urinóis caseiros. No Arraial do Espírito Santo (antigo nome de nossa querida e bela Divinópolis) era comum vender e comprar partes de um escravo, ou seja: alguém vendia uma quinta parte e ficava com as outras quatro partes, que podiam ser negociadas, de tal maneira que um escravo podia ter cinco donos, e o pobre se via obrigado a trabalhar tantas horas diárias para cada um, de forma a satisfazer todos. Em 02/01/1849 os cinco donos do escravo Manuel Bengela passaram no Cartório do Arraial (que na época era Distrito da Vila de São Bento do Tamanduá, hoje Itapecerica) a escritura de compra e venda de cinco partes de um escravo a José Soares Siqueira. Os mais antigos posseiros e moradores do território foram os Sesmeiros, pessoas ricas e donas de escravos, que recebiam do governo as Cartas de Posse com a condição de cultivar e povoar os sertões. Consegui cópias das cartas referentes à ocupação do território regional no Arquivo Público Mineiro, que hoje estão no Arquivo Público de Divinópolis, das quais extrai os seguintes dados: a sesmaria de FRANCISCO DIAS DOS REIS, na Paragem do Quilombo, em 1740; outra dos sócios MANOEL LOPES RIBEIRO e FLORÊNCIO FERREIRA, na Paragem da Cachoeira Grande do Rio Pará (Gafanhoto), em 1754; outra do Sargento-Mór GABRIEL DA SILVA PEREIRA na Cachoeira Pequena do Rio Pará (Ferrador), também em 1754; outra de BENTO DA COSTA OLIVEIRA, na Cachoeira do Macuco (Distrito Industrial) em 1759; outra de ANTONIO MENDES, cujas terras confrontavam com as de MANUEL FERNANDES TEIXEIRA, autor do belo e grandioso gesto de fundar nossa cidade de Divinópolis, construindo a Capela do Divino Espírito Santo e São Francisco de Paula, e doando à mesma 40 alqueires de terra – tenho em mãos cópia da escritura que descreve o terreno hoje ocupado pelo Centro da Cidade e o Bairro Sidil. As terras do Manuel (que ele comprou de sesmeiros) partiam da Ponta da Serra Negra (hoje no município de São Sebastião do Oeste e que naquela época pertenciam ao Distrito de Nossa Senhora do Desterro, hoje Marilândia) e despontavam no Corgo do Tejuco, antigo nome do hoje chamado Córrego do Barro, no Bairro Afonso Pena. Outra Sesmaria na região é a de ANNA MARIA JOAQUINA ROSA, na Paragem da Serra Negra, na direção do poente, de 1771; na mesma data e no mesmo livro foi registrada também a sesmaria concedida ao marido de Anna Maria Joaquina Rosa, o Guarda-Mór ANTÔNIO JOSÉ DE CASTRO (ela era irmã de Rosa Angélica da Luz e ele era irmão de Faustino José de Castro, pentavós paternos do autor destas Notas), que partia da mesma Serra Negra na direção paralela à da sesmaria anterior, despontando nas regiões dos Branquinhos e do Córrego Falso. Em 1789 foi registrada a de MANOEL GASPAR PEREIRA, no Campo Alegre, hoje região do Aquiles Lobo; e no mesmo ano foi registrada também a de THOMÉ VIEIRA DE BRITO, e em 1799 a de JACYNTO JOSÉ BORBA e em 1801 a de JOAQUIM PEREIRA DE CASTRO, em terras devolutas da Paragem do Espírito Santo das Itapecericas (um dos outros nomes de nossa Divinópolis). Muita coisa mudou desde então em todos os quadrantes e círculos regionais. Mas que fique aqui registrada a saga do ímpeto desbravador dos pioneiros que viveram num tempo hoje injustamente esquecido. Que tal uma homenagem póstuma a eles, heim, senhores vereadores da Câmara Municipal? Tantas ruas ainda sem nomes e tantas com nomes até mesmo aberrantes – e os heróicos nomes dos pioneiros meramente luzindo sob a escuridão dos alfarrábios manuscritos que o olvido das novas gerações soterra.... Mais informações a respeito, consultar o livro do autor destas Notas: MEMORIAL DE DIVINÓPOLIS, na biblioteca pública municipal e nas bibliotecas das escolas do Município.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Boa tarde, Sr Lázaro,
Gostaria de adquirir o seu livro de memórias de Divinópolis - o senhor ainda teria algum disponível?

Obrigada

Christiane Gomes Mazzola
chris@mazza.com.br

11:49 AM  

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