domingo, setembro 16, 2007

A JABUTICABEIRA DO QUINTAL







As árvores morrem erguidas:
os galhos ao sol e à chuva das estações
espetadas contra a névoa azulada.
Seja por alguma doença ou mera velhice
uma e outra delas expiram aos poucos
nos relapsos dos ciclos
na agonia dos silentes suspiros.

Uma das jabuticabeiras seguiu-me vida afora
com seus milhões de olhos negros
que se deixavam ver, oferecidos à sede
de todas as propensões do corpo.
Irremediável é agora vê-la perder
a seiva circulante das artérias mais íntimas,
murchar e secar o madeiramento e a folhagem,
agonizar amarelando
e tudo isso meu Deus do céu:
em meio à verdura exuberante das laranjeiras
das mangueiras bananeiras pitangueiras,
agora meras vizinhas condolentes, como se ela fosse
um dos moradores do arraial vendo outro deles
já sem o olhar nos olhos.