domingo, setembro 02, 2007

O CAOS VIROU ROTINA?

Por que a política brasileira caiu no marasmo (para não dizer carnavalização) atual? Por que um território tão grande e belo está como que ficando pequeno e feio? Por que tanta mão de obra desocupada (tanto desemprego!) se há tanta coisa por fazer, tantas obras dormindo no berço apático dos projetos? Por que tanta falta de homens (shakespereanos) que enfrentem o mar de provações com o objetivo de esvaziá-lo através da fé dinâmica e da lucidez criativa? Perguntas acacianas e aberrantes. Por que Brasília se transformou num poço de desânimo, numa ilha de mandriões e coniventes, num pólo irradiador de maus exemplos? Por que? A resposta que no momento me ocorre: é porque falta um número maior de políticos que sejam estadistas da estirpe de um Pedro Simon, uma Heloisa Helena, um Fernando Gabeira; e também porque faltam os mineiros da estatura moral e cívica de um Teófilo Ottoni, um Otávio Mangabeira, um Pedro Aleixo, um Gabriel Passos, um Milton Campos, um Tancredo Neves. Homens de bem que se tornaram políticos, políticos que se tornaram estadistas, que apresentaram soluções em tantas ocasiões periclitantes, que concorreram para o bem estar social dos brasileiros em ciclos e transes cruciais. Mesmo na monarquia os nomes de Antônio Carlos, José Bonifácio, Martim Francisco, Padre Belchior, brilharam na luta pela salvaguarda da integridade moral do nosso humanismo; e nas refregas republicanas lá estavam as figuras insuspeitadas, coerentes e cultas de João Pinheiro, Bias Fortes, Olegário Maciel, Augusto de Lima, Afonso Arinos, Melo Viana, para desanuviarem os horizontes das incertezas e acionar os mecanismos da funcionalidade democrática. E quando a ditadura Vargas fincou as unhas e cerrou os dentes, e depois com o golpe militar de 64, quem esfriou os ânimos sanguinários e evitou o pior? Entre outros, de várias parte do país, os mineiríssimos Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Milton Campos, Israel Pinheiro, Itamar Franco. E agora? A fonte da moralidade mineira secou? Cansou de lutar em vão e resolveu desaguar no mesmo poço imundo da imoralidade e da indignidade? Se dermos uma olhada na História, facilmente constataremos que a administração pública brasileira nunca funcionou a contento. Desde a balbúrdia inicial da colonização, errando sucessivamente na incapacidade de pelo menos conservar a riqueza natural do território, até à proclamação da republica, que já começou desvalida e viciada, passando depois pelas nefastas experiências totalitárias, até chegar ao ponto de penúria que hoje presenciamos: um país saqueado, um povo abatido e as forças negativas preponderando em praticamente todos os níveis: estradas impraticáveis, espaços aéreo periculoso e marítimo encalhado e ferroviário sucatado; os poderes públicos à mercê da corrupção consentida, banalizada e triunfante; a segurança pública entregue aos ratos e às baratas; a criminalidade aberta e livre a ponto de já influenciar grande parte da própria população; a desmoralização dos usos e costumes num contexto governamental em que a lei é o cutelo do pobre e o amparo do rico; a escassês da boa exemplaridade de uma política sadia e honrosa. Historicamente o que notamos é que os períodos de vigência democrática têm sido tão curtos que nem dão tempo de se criar uma fina e vigorosa, dinâmica e erudita elite politicamente participante. Quando uma geração se posiciona favoravelmente, vem uma recaída de corrupção ou de absolutismo – e aí os elementos de escol das novas gerações desistem da politização, vão trabalhar em outras áreas – e o governo (municipal, estadual, federal) cai nas mãos dos arrivistas e dos mal-intencionados – e é assim que a vaca nunca sai do brejo. E assim a continuidade do desmando é de tal maneira constante e crescente ao longo do tempo, que o país nunca desfruta da ascendência de uma elite que possa instaurar a prosperidade de uma gestão de bons propósitos e de melhores efeitos. Se às novas gerações faltam pontos de apoio das influências salutares, como poderão um dia mudar o histórico da nação, passando do arrivismo irresponsável para um ativismo altivista, calcado nos princípios democráticos da dignidade com todos seus valores politicamente sadios?