quinta-feira, maio 01, 2008

ASPECTOS PONDERÁVEIS DA HISTÓRIA DO BRASIL

Às vezes a gente pensa porque o nosso país é assim desarticulado e praticamente ingovernável. Um território continental belíssimo, provido de todos os bens de uma natureza exuberante e generosa, certamente não merecia e não merece um tratamento civilizatório tão imaturo e tacanho, tão deslavado e truculento, tão ineficaz e destruidor. É a tal assertiva: o que começa mal, acaba mal. Sabemos que o Brasil ainda não acabou. Mas, pelo andar da carruagem, parece que nada afastará o abismo de uma extremidade que aos poucos se aproxima. Ou estou sendo excessivamente pessimista, ao atentar e a crer no que diz o noticiário dos acontecimentos sociais de nosso dia-a-dia? “Gigante pela própria natureza”, diz o verso do hino nacional. Sim, o problema talvez esteja aí: no gigantismo territorial. Se o país fosse menor, vamos dizer: repartido em vinte e tantos países – isso ajudaria na administração de cada um e de todos? Talvez, mas, e a grandeza da pátria amada? E o sonho da unidade brasileira em bons termos? Se o problema é o gigantismo, então a solução está no surgimento de governantes à altura, e não esses que têm surgido ao longo dos séculos. Vemos pelos anais oficiais que eles, os governantes ao longo da história, só apresentam resultados negativos, o que prova à exaustão uma incompetência crônica, repetitiva. Assim raciocinando estarei acertando ou errando? São perguntas (todas acima) que merecem uma pausa para meditação, não? Abaixo transcrevo, reverenciando o senso de humor do poeta Sebastião Nunes, alguns dados de sua hilariante “História do Brasil” (edição DUBOLSO/MAZZA, Sabará, MG, 1992). 

1 – As Capitanias Hereditárias. Caio Prado Júnior explica, em “História Econômica do Brasil (Edit. Brasiliense, 1970), que o governo português, ainda no séc. XVI, para não perder a posse do território brasileiro para os invasores franceses, teve que criar as chamadas Capitanias Hereditárias, valendo-se do espírito de aventura de seus súditos “que se dispusessem a arriscar cabedais e esforços na empresa”. Entre os pretendentes (doze) não figura nenhum nome de grande nobreza ou do alto comércio do Reino. A maior parte deles fracassou na empreitada, perdendo “nela todas as suas posses (alguns até a vida), sem ter conseguido estabelecer no Brasil nenhum núcleo fixo de povoamento”. 

2 – Antropofagia. Hans Staden, em “Duas Viagens ao Brasil” (Edit.Itatiaia, 1974), descreve cruamente a prática antropofágica no país, em certas tribos indígenas: “o prisioneiro é golpeado na nuca,... de modo que lhe saltem os miolos” e, levado ao fogo, “raspam-lhe toda a pele...tapando-lhe o ânus com um pau”. Depois de esfolado, tem as pernas e os braços cortados, separando-se as costas com as nádegas. “As vísceras são dadas às mulheres...que fervem-nas e com o caldo fazem uma papa rala, que se chama mingau, que elas e as crianças sorvem”, juntamente com “a carne da cabeça, o miolo do crânio, a língua e tudo o que podem aproveitar”. 

3 - Os Escravos. Eis como o assunto é tratado por Gilberto Freyre em “Casa Grande & Senzala (edit. José Olímpio, 1975): “Ao escravo negro se obrigou aos trabalhos mais imundos na higiene doméstica e pública dos tempos coloniais. Um deles, o de carregar à cabeça, das casas para as praias, os barris de excremento... que ficavam longos dias debaixo da escada....Quando o negro os levava é que já não comportavam mais nada. Iam estourando de cheios e de podres. Às vezes largavam o fundo, emporcalhando-se então o carregador da cabeça aos pés....É de se presumir que o escravo africano, principalmente o de origem maometana, muitas vezes experimentasse verdadeira repugnância pelos hábitos menos asseados dos senhores brancos”. 

4 - Os Índios. Trecho (em linguagem graficamente atualizada) de Pêro de Magalhães Gândavo, em “Tratado da Província do Brasil” (edit. do Instituto Nacional do Livro, 1965): “Não se pode numerar nem compreender a multidão do bárbaro gentio que semeou a natureza por toda a terra do Brasil, porque ninguém pode pelo sertão adentrar seguramente, nem passar por onde se acha povoações de índios armados contra todas as nações humanas – e assim como são muitos, permitiu Deus que fossem contrários uns aos outros, e que houvessem entre eles grandes ódios e discórdias, porque se assim não fosse, os portugueses não poderiam viver na terra nem seria possível conquistar o tamanho poder de tal gente”.