sábado, junho 07, 2008

DIA E NOITE

O bando de capivaras no relvado da beira do rio: o dia inteiro sem proferir uma palavra. “Já estamos conversados”, cada uma diz, no interminável diálogo lá delas, que para nós é satisfatório silêncio. Varrendo as folhas das árvores do passeio de sua casa, o idoso é interpelado pelos passantes da rua: “a folhagem não dá trégua, heim?” Ele ri amarelo, aceita a pergunta sem responder. Sabe que cada uma das folhas é uma palavra de Deus, a ele remetida em todo santo dia, em forma de álacres bilhetes da fértil imaginação cósmica. Depois de ler e curtir centenas de escritores (alguns talentosos, outros geniais), sinto-me livre de todos eles, sabendo que nada estou a dever a nenhum deles, e que agora estou apenas comigo, e que agora posso andar com as próprias pernas ao longo e ao redor da vida e do mundo, sem tropeçar nas aflições e nos barrancos, sabendo que Deus não dá asas à cobra, e que a mim Ele dá asas, mas cobra.