quinta-feira, maio 22, 2008

O BRASIL DOS ÍNDIOS

Dando seqüência à nossa sintética (e singela) demonstração de alguns aspectos ponderáveis da História do Brasil, valemo-nos agora de um dos livros da série de romances históricos de Assis Brasil (*), 

“PARAGUAÇU E CARAMURU - Origens Obscuras da Bahia” e “VILLEGAGNON – Paixão e Guerra na Guanabara” (Editora IMAGO, RJ, 1999). 1 - O Patriotismo Indígena (conforme está na página 48): “Os índios eram os donos da terra, e os portugueses, intrusos. Claude Lévi-Strauss afirma que “a magia e a ciência são duas formas de conhecimento paralelas, a primeira não antecede a outra nem lhe é inferior”. Eis porque se para os “descobridores” os índios eram “bárbaros”, para os índios os descobridores também eram bárbaros”. 2 –O Tronco das Tribos (página 81): “Os nomes das tribos indígenas do Brasil são outro equívoco dos historiadores, nativos ou estrangeiros. Havia um único tronco na região litorânea (de 1 milhão a 5 milhões de indivíduos), daí a língua geral que falavam e que também iria se modificar com a dissensão de grupos. Os navegadores e descobridores batizaram-nos (os espanhóis) de guaranis e (os portugueses) de tupis. Mas o fato é que todos os selvícolas nessa faixa eram tupinambás (o tronco principal) ou tupis (os guerreiros). 3 – Escravisação (página 226, citação de Benedito Prezia): “Diante da ação avassaladora e incontrolável dos europeus, os indígenas não tinham muito a escolher: fugir para o mato ou aceitar os escravisadores menos ruins”. 4 - A Catequese (pág. 291, citação de Pero Vaz Caminha): “A feição deles é serem pardos, maneiras de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos... Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar essa gente, e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”. Já o famoso José de Anchieta, aconselha que “para este gênero de gentes não há melhor pregação do que espada e vara de ferro” (pág. 219). E o Primeiro Governador Geral, Tomé de Souza, desumanamente declara que “são tantos os selvagens que nunca conseguiremos terminar com todos eles, nem mesmo que tenhamos que cortá-los em matadouros” (pág. 30). E na página 43 A. Souto Maior faz a ressalva do genocídio: “se não fosse a Companhia de Jesus, o colono português teria dizimado completamente as tribos indígenas”. 5 - A Resistência Indígena: “As lutas entre colonos e indígenas levariam ao fracasso da Capitania Hereditária. O próprio donatário da Bahia (Francisco Pereira Coutinho) morreu trucidado pelos tupinambás” (conforme A. Souto Maior, página 27). 6 – As Virtudes Indígenas: trecho de uma declaração de Américo Vespúcio, transcrita na página 60: “Os índios se banham continuamente e são polígamos e muito zelosos. Não se lhes pode chamar de mouros ou judeus; não lhes vimos praticar nenhum sacrifício e tampouco possuem casas de oração”. A respeito, eis o que diz o Padre Manuel da Nóbrega: “Figura de morena encantada, tipo delicioso de mulher morena e de olhos pretos, envolta em misticismo sexual – sempre penteando os cabelos ou banhando-se nos rios ou nas fontes mal-assombradas” (página 187). 7 – A Magia Deles e Neles: “Algumas flautas, sobretudo as ornadas com desenhos ou gravuras, eram consideradas instrumentos sagrados e tinham poderes mágicos, sendo tabu para as mulheres” (Renato Almeida, página 144). 8 - A Miscigenação:”Os jesuítas conseguiram vencer nos primeiros colonos a repugnância pelo casamento com as índias. Os mais aqui tinham índia de muito tempo de que tinham filhos e tinham por grande infâmia casarem com elas. Agora se vão casando e tomando vida de bom estado” (Padre Manuel da Nóbrega, página 210). 9 - O Papel Positivo dos Piratas: “Não estaremos longe da verdade se considerarmos a disputa francesa a causa principal da colonização da terra descoberta por Cabral. Se não fosse a pirataria dos franceses, talvez o rei português não se lembrasse de colonizar o Brasil” (Manuel Diegues Júnior, página 403). 10 - O Belo Gesto de Villegagnon, Segundo Nicolau Barres, pág. 473: “Homem de bem e temente a Deus, Villegagnon proibiu terminantemente que os franceses tivessem relações com as brasileiras, sob pena de desposá-las, ou morrer”. 

(*) Assis Brasil, famoso escritor piauiense, de projeção nacional, é autor de uma série de romances históricos, de crítica literária e de organização de antologias poéticas nacionais (numa das quais incluiu poemas deste resenhista, que o considera dileto amigo e referência de trabalho intelectual no melhor sentido, ou seja, na importante área de prevalência da verdade e da beleza nas relações humanas).