DOIS TEMPOS
I Numa manhã de noites femininas, o sol molhado no jorro das neblinas: minha voz responde a outros cantos, só audíveis na vivência dos espantos. Uma estrela em pleno dia que passa sobre o roçado desfeito em fumaça: pergunta ao fazendeiro e ao delegado porque mataram as árvores do cerrado. Passo a passo o vento me acompanha. A hora é cedo na cabeça da montanha. Uma palavra me espera na porteira: é um sigilo de flor na trepadeira.
II
A tarde é ampla e aberta,
Quase a noite.
O medo se levanta, gritando-me.
O gado beira o curral.
A sombra de uma palavra
Toca o nível da relva,
Corta o vôo de um pássaro.
Três estacas no brejo
Acolhem a tristeza do Jeca.
Olha aí a dor, quase a morte
Do amor dos seres vivos.
1 Comments:
Um tempo, dois tempos sertânicos, um protesto com a degradação da natureza, as palavras disseminadas nas folhas... é de uma beleza espetacular! Mais uma vez, e sempre, parabéns! Da leitora Marilda Mendes.
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