terça-feira, maio 20, 2008

DOIS TEMPOS

I Numa manhã de noites femininas, o sol molhado no jorro das neblinas: minha voz responde a outros cantos, só audíveis na vivência dos espantos. Uma estrela em pleno dia que passa sobre o roçado desfeito em fumaça: pergunta ao fazendeiro e ao delegado porque mataram as árvores do cerrado. Passo a passo o vento me acompanha. A hora é cedo na cabeça da montanha. Uma palavra me espera na porteira: é um sigilo de flor na trepadeira. 

II A tarde é ampla e aberta, Quase a noite. O medo se levanta, gritando-me. O gado beira o curral. A sombra de uma palavra Toca o nível da relva, Corta o vôo de um pássaro. Três estacas no brejo Acolhem a tristeza do Jeca. Olha aí a dor, quase a morte Do amor dos seres vivos.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Um tempo, dois tempos sertânicos, um protesto com a degradação da natureza, as palavras disseminadas nas folhas... é de uma beleza espetacular! Mais uma vez, e sempre, parabéns! Da leitora Marilda Mendes.

11:43 AM  

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