QUEM NÃO AMA GUIMARÃES ROSA? VAMOS À FONTE DO AMOR?
Amar é querer se abraçar como o pássaro que voa... Espero a lua nova como o cão espera o dono... Podia ser um caranguejo ou um coração... O peixe sem rastro na água sem nenhuma memória... O esquecimento é voluntária covardia... Se todo animal inspira sempre ternura, que houve, então, com o homem?...O medo grande que de dia e de noite esvoaça pousa na testa da rês como uma dor... Também os defeitos dos outros são horríveis espelhos... A queda do Homem persiste, como a das cachoeiras... Nós todos viemos do Inferno; alguns ainda estão quentes de lá... Os santos foram homens que alguma vez acordaram e andaram nos desertos de gelo... Não ter medo: o mar não se destrói com nenhuma tempestade... As velhas pedras influem, como os astros; mas só as árvores convivem com a terra impunemente... A memória nem mesmo sabe andar de costas: o que ela quer é passar a olhar apenas para a diante... Aviso: as sombras todas se equivalem... Só as pessoas não morrem: tornam a ficar encantadas... Que vamos, que vamos, até os ponteiros estão afirmando... Só na foz do rio é que se ouvem os murmúrios de todas as fontes... A água que não teme os abismos: a grande incólume... O bagre tem sempre as barbas de molho... Em alguma treva – como os mariscos no rochedo – as almas estarão secretando seus possíveis futuros corpos?
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