LITERATURA – TRECHOS DE UMA ENTREVISTA
A literatura divinopolitana é muito rica: é nesse aspecto que a cidade nem parece ser do interior, mas uma parte dos grandes centros urbanos.
Além de Adélia Prado e Osvaldo André de Mello, ainda brilham atualmente as talentosas figuras de Marlene Moreira, Fernando Teixeira, Jeanne France, Carlos Antônio Lopes, Mercemiro Silva, Fabrício Augusto e muitos outros. Uma riqueza qualificativa e quantitativa.
Sobre o meu trabalho? É uma longa, custosa e fascinante peregrinação de aprendizagem. Acompanho as gerações e estilos dos autores brasileiros desde a infância, a começar por Casemiro de Abreu, Gonçalves Dias... até os nossos dias, priorizando sempre o conteúdo sobre a forma, sabendo que a forma depende do conteúdo, considerando, também, que o conteúdo sem a forma se esvai no caminho da expressão.
A melhor definição que conheço da Literatura é que ela é o local de encontro de duas almas (individualmente e coletivamente). Sabemos que o ser humano de nossos dias coabita, convive com os outros seres humanos de duzentos ou milhares de anos passados através dos poetas e prosadores gregos, russos e ingleses....
Poesia e Prosa: é a mesma coisa se despertam no leitor a convicção da verdade e da beleza de um humanismo iluminado.
O nome certo para irmanar um gênero com o outro é a palavra Ficção. Ficção no Aurélio quer dizer imaginação, mas esse termo, no mesmo dicionário, quer dizer tanta coisa que se confunde com a própria vida humana.
Mas a literatura ocupa um espaço ainda mais amplo: abrange o ensaio, a biografia, a história, a crônica, todo o humanismo em palavras (em imagens será arte gráfica).
Já publiquei os livros: Árvore no Telhado, Mel e Veneno, A Cabeça de Ouro do Profeta, Aço Frio de Um Punhal, A Lapinha de Jesus (em parceria com Adélia Prado), Minha Bela e Querida Divinópolis, Memorial de Divinópolis, História de Arcos, Memorial do Desterro e A Família Oliveira Barreto, além de participar de muitas antologias no Brasil e no estrangeiro de contos, poemas, crônicas e ensaios.
Participei da fundação e direção de jornais literários (o AGORA e o DIADORIM) – e colaboro na imprensa local desde a década de 70 – e atualmente mantenho uma coluna semanal no GAZETA DO OESTE.
Mantenho em casa, carinhosamente guardados alguns originais de livros inéditos. O exercício da literatura, eu disse uma vez ao saudoso amigo José Afrânio Duarte, “é um fardo pesado, um cálice amargo. A compensação é subjetiva e surge apenas no momento de convalescência de uma longa angústia.
Mas para quem é vocacionado é muito difícil livrar desse exercício por assim dizer masoquista. Seria pior se engolisse sem digerir, se apenas recalcar os movimentos de vida interior que afloram continuamente através de suas condições inelutáveis de ser e de estar neste velho mundo sem porteiras.
Sobre o romance que está no prelo (CANTAGALO): por que escolhi o tema da prostituição nos anos sessenta numa cidade do interior mineiro? À pergunta que me fazem, respondo: fi-lo (como diria Janio Quadros) porque participei, na juventude de todo o envolvimento social da cidade. Vivia no centro urbano e, mais como espectador do que como personagem, participava dos acontecimentos sociais.
Podia ter escrito um texto meramente jornalístico Mas a vocação literária falou mais alto. Creio que nas páginas do livro pude discorrer livremente nas asas fictícias – e revelar o realismo daquela fase naquele lugar, sem ferir susceptibilidades.
Creio que a literatura é uma das mais liberais das ocupações intelectuais. Nela a face da realidade brilha sob o sol e a lua ao mesmo tempo, movida pela imagem do realismo e o conceito da imaginação.
Não há nada de gratuito nem de invencionice no livro. O que está nas páginas é o mínimo do que realmente acontecia naquele lugar naquela época. Milhares de pessoas testemunharam – e alguém teria que revelar, considerando que os atos das pessoas são da alçada de toda a humanidade. E tanto o escritor como o leitor são integrantes dessa mesma humanidade.
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