segunda-feira, agosto 29, 2005

20 - O SOM DE NEGROS EM CUBA (*)

Quando chegar uma das luas de teu olhar
ao som dos nativos de Cuba no Caribe
irei a teus lábios
escalando teu corpo de formas emboscadas.
Quando os pingos da água na folha de inhame
forem rosas de maio de doze pétalas cada
irei a teus lábios.
Irei a teus lábios
Pelos cinco caminhos da beleza de teu rosto:
os olhos, fonte de auréolas
o nariz, as abertas janelas
os lábios que comprimem e reviram
os dentes imprecisos e presentes
a língua, pétala clitórica, fita de palavras
imprevisíveis.
Irei a teus lábios
sempre digo que irei a teus lábios,
ó lenitivo das horas montanhosas!
ó manacá na serra das hortênsias!
Sempre a ler a caligrafia dos poros e rugas
irei a teus lábios
a seguir as incisões da água e do vento na pedra
(esse livro de folhas coladas)
Irei a teus lábios.
Sempre digo que irei a teus lábios
no calor temperado de folhas verdes
sedento das verdes águas e dos carinhos.

(*) Paráfrase do poema de Federico Garcia Lorca, tradução de Afonso Félix de Souza,em “Antologia Poética”, editora Leitura S.A., RJ, l966.