domingo, fevereiro 19, 2006

Árvore no Telhado - Poemas

ÁRVORE NO TELHADO (1969) (fragmentos) – Lázaro Barreto


1 – Lírios, Pela Primeira Vez

Beleza é loucura.
A confluência do périplo de Orfeu
no espelho triangular das vozes líricas.

Beleza é tragédia.
A claridade excessiva é absoluta cegueira
- e que deserto é a metafísica visual.

Beleza é vitalidade,
com as flores em relação à fruta,
com os rios apensos ao mar.

A beleza é a verdade.
Luminosas raízes da árvore,
ó pássaro no interior da pedra!


2 – Marilândia

Alguma coisa eternamente imprecisa
apascentava os homens no arraial,
nos dias das cruzes de madeiras.
No inverno as vacas beatíficas
remoíam o verde do destino,
seguiam apartadas das crias,
aumentando nas árvores a tristeza.

Que silenciosa catástrofe não atende
ao apelo da noiva triste,
abrindo no infinito uma goteira
de água fria para seus pulsos?
Já eram enormes horas da noite
e eu ainda me feria nos poemas.