domingo, fevereiro 05, 2006

VELHOS POEMAS

1 – A Janela Erótica: O vulto perturbador atrás da vidraça é da mulher com seus órgãos musicais e sexuais. O inocente exibicionismo dela custa-me os olhos da cara - é o seu ícone fugidio? O que ela contrái em seus eventuais transtornos? a nudez faz bem em certos momentos, faz mal em outros? tem um perfume que de longe inebria? e como fica então a purgação dos pecados? a amargura atrapalha a beleza? o coração está em toda parte do corpo? As outras vísceras choram de inveja no corpo esbelto? a mulher sobranceira depois se esgarça em vultos na lenta ocupação, na arrumação da casa, na penteação dos cabelos, na trocação de roupas e de peles: é uma imagem invisível daqui a pouco? uma estrela mirrada na lonjura de um céu repleto de impossibilidades? um apelo carnal agora sem força persuasiva? uma sugestão de penumbra a espantar o sono? 2 – Essas Mulheres: Sara chamava detrás dos montes Rute colhia as espigas na roça também Ester, Judite e Raquel eram doces filhas do Amor. E o Senhor nas nuvens era e é um arco retesado. 3 - O Amor de Deus. Os católicos cantavam na nave da igreja. O canto vinha das artérias anímicas de uma sereia de pernas e glândulas? Vinha despertar os instintos e as venturas. Em dado momento senti o perfume de um cotovelo a pressionar meus rins. ela o fazia por querer? Um dos seios dela cotucava um de meus ombros? senti o arrepio, a tepidez da manhã dominical nos ares dos mais íntimos pecados dela. Ela fixava o altar povoado de santos. Acompanhava, contrita, o ágape sagrado. Eu namorava seu perfil ruborizado, a fra- tura dos lábios sanguíneos e pregueados. Os católicos cantavam na igreja. Os acordes banhavam os anjos pintados e esculpidos, perfuravam os paramentos e a acústica, volviam aos peixes e aleluias das vestes que desnudavam os desejos inconfessáveis daquela santa mulher ao meu lado. Deus está mesmo em toda parte.