Não É Deste Mundo? -Lázaro Barreto
NÃO É DESTE MUNDO? - Lázaro Barreto
Ela
vívida humana doçura que fala e abençoa
que olha e no olhar ama e canta:
faz-me sonhar sob uma chuva de luar?
o que ouço, timbre angelical
me faz melhor do que antes de vê-la
me supera, sobrepondo-me virtudes
nunca antes sequer almejadas?
é uma abstração metafísica
e mesmo assim fala ao passar,
como uma pessoa comum?
e canta ao falar
como o doce pássaro da juventude?
seus ossos são de nuvens, suas amígdalas
cítaras? suas plumas carinhos?
onde tirou tanta doçura?
é na verdade uma humana criatura
ou uma deidade caída do céu aqui na nave
da igreja?
na rota do crepúsculo verde?
na doce maturidade?
e assim fico transviado, sem saber
como viver no embargo desse encantamento:
como viver no embargo desse encantamento?
quem teria o direito de sonhar com ela
tão diáfana
malgrado o consentimento da impossibilidade...
sem mais delonga o jeito é
coçar a cabeça, agradecer a Deus
uma nova bênção assim assim
arrebatadora.
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