domingo, abril 30, 2006

MIMO DE VÊNUS

O livro é uma casa um jardim um quintal nele os feixes de palavras são ramalhetes de flores são objetos de serventia e decorativos que ascendem e ou descendem da genealogia moral e biológica da arte ou seja da cultura material e ou imaterial cada pé de flor tem seu nome e perfume cada pé no chão tem seu gene plantado cada árvore tem sua maternidade é a vida vertical que se esgalha generosamente.... Anos a fio o hibisco do quintal lá de casa (que tem o melhor nome de mimo de vênus, que tem o melhor nome de beijo) plantado erguido no terreiro da cozinha rural espoucou seus cachos esguinchou suas corolas lançou os perfumes de auroras e clorofilas tudo assim colocado com o ar da graça a fim de que o poeta que eu deveria ser cantasse as beatitudes de suas felizes manifestações. Tudo debalde porém. Eu que o via todo santo dia, varria suas folhas e pétalas como lixo vegetal... Era só o que me faltava cometer de ruim ao longo da insônia desta vida! Eu que o via todo dia sorrindo de vermelho em sua pródiga florada e que de tanto oferecer a femininilidade de seus estilos de seus ovários e estigmas a ouvir suas habituais palavras hagiológicas seminais semióticas eu varria o chão sem dó nem piedade sem jamais colher e beijar os versos as estrofes os poemas do livro trêmulo em meus olhos e mãos aberto aos pássaros abelhas formigas fechado para o ingrato que eu então era e tanto era! Mas agora a bater no peito exclamo: Mimo de Vênus! o que mais me ficou da herança helênica é essa árvore de vermelhos beijos. Dos vermelhos beijos do amor à vida!