DESLIZAR OS IMPASSES
O evasivo tem seu lugar reservado na coletânea genealógica. Como especificar o recasamento de meu bisavô com a sobrinha, que era sobrinha também de sua finada esposa? E como explicar que meu próprio pai, ainda adolescente, fez um filho na tia? São licenças poéticas atrevidas? Contravenções penais e morais? Todo amor romântico é mesmo assim, alucinado? Tenho que fechar os olhos e ver que quem quer que seja tem que despistar um pouco, fazer de conta que não tem nada a ver com o possível ato falho, tenho que levar em conta que ninguém está isento do eventual deslize, que todo mundo tem lá sua culpa no cartório, não é flor que se cheire ou que pelo menos, em todo caso, quem assim exala o perfume da irrepreensão, não passa de uma bola murcha na contenda. Temos que deixar o pânico nas esquinas, antes de entrar ou de sair de nossa residência? Temos que alongar os membros do corpo, suspender os atributos intelectuais, empertigar uma certa insolência, relaxar os músculos da mente, mudar de assunto, deixar para depois o fio romanesco. Afinal o que nos resta mesmo da herança genética é uma certa alegria de um renitente sofrimento?
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