quarta-feira, novembro 22, 2006

PARÁFRASE DE VACHEL LINDSAY (*)

Tolstoi, esse velho e novo (mais novo que um recém-nascido) anjo da paz e da felicidade, amanha o solo na estação propícia. Pés no chão, cabeça ao ar livre, lá vai ele a lavrar a terra (mãe, berço e sepultura de todos e de tudo). Seu arado puxado por bois ungidos segue sulcando a palhada fértil do roçado, onde em breve brotarão flores e frutos deste nosso reino do céu e da terra. Convicto e legítimo cristão, íntimo poeta, nosso irmão de sangue e de sonhos, ele se avulta no campo, imantando os augúrios, sua cabeça laureada perfurando as nuvens das chuvas e das imagens. Quando e quanto elas mais se abrem, o vale perto desdobra de sol a lua, de lua a sol (vésper e vênus revezam os nomes da estrela): o vale amplo é sensível, o coração mimado em seu peito apto e receptivo. Acima dele só o turbilhão dos astros no empíreo e “a recurva trilha onde docemente repontam novas estrelas” (1). 

(*) Vachel Lindsay, 1879-1931 – Springfiel, Illinois, EUA. 

(1) O trecho entre aspas é da tradução de Oswaldino Marques para o verso “And the arching path where new sweet stars have birth”, em Poemas Famosos da Língua Inglesa, Edit. Civilização Brasileira, Rio, São Paulo, 1956.