SONETO VINTE E SETE, DE SHAKESPEARE (*)
Trad. de Lázaro Barreto.
Exaurido pela lida do dia a noite me alcança
num leito de alívio nas sombras do horto
- mas logo na mente uma jornada avança,
e outra luta se inicia, finda a do corpo.
Assim no pensamento as premissas debandadas,
a procurar-te, amada, vão, em romaria vão,
mantendo abertas as pálpebras cansadas,
a fitar o que até o cego vê na escuridão.
Salvo que de minha alma a doce miragem
exibe teu vulto aos meus olhos sem calma,
o qual, como jóia suspensa na voragem
faz bela a noite que chega mais cedo.
Assim de dia o corpo, de noite a alma
no teu ou no meu proveito, não têm sossego.
(*) Escrito depois de ler o livro “Poemas Famosos da Língua Inglesa”, traduzido por Oswaldino Marques, Edit. Civilização Brasileira, RJ, 1956.
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