sexta-feira, novembro 03, 2006

SONETO VINTE E SETE, DE SHAKESPEARE (*)

Trad. de Lázaro Barreto. 

Exaurido pela lida do dia a noite me alcança num leito de alívio nas sombras do horto - mas logo na mente uma jornada avança, e outra luta se inicia, finda a do corpo. Assim no pensamento as premissas debandadas, a procurar-te, amada, vão, em romaria vão, mantendo abertas as pálpebras cansadas, a fitar o que até o cego vê na escuridão. Salvo que de minha alma a doce miragem exibe teu vulto aos meus olhos sem calma, o qual, como jóia suspensa na voragem faz bela a noite que chega mais cedo. Assim de dia o corpo, de noite a alma no teu ou no meu proveito, não têm sossego. 

(*) Escrito depois de ler o livro “Poemas Famosos da Língua Inglesa”, traduzido por Oswaldino Marques, Edit. Civilização Brasileira, RJ, 1956.