terça-feira, setembro 26, 2006

A REFORMA AGRÁRIA E O MST

A verdadeira reforma agrária visa humanizar o campo, ou seja, compartilhar os bens naturais na sociabilidade humana – algo que tem de ser feito com muito critério, muito cuidado, para não desencadear a destruição desses bens e arruinar ainda mais o meio-ambiente. A falta de critério e de cuidado do homem capitalista com tudo que não resulta em ganho financeiro é notório e inegável. A possibilidade de se fazer uma reforma agrária pacífica no Brasil é quase utópica, se considerarmos a vocação predatória do brasileiro, mais premido pela coerção do estômago do que pela da mentalidade. Mas um pouco de otimismo não faz mal a ninguém, o comportamento desarticulado das pessoas tem que ser corrigido, suas virtudes precisam ser aperfeiçoadas e postas em prática. Os ativistas do MST são questionados em suas reivindicações porque são considerados, de um modo geral por seus críticos e oponentes, como pessoas desprovidas de vocação ruralista, desempregados da cidade que dificilmente se aclimatariam ao penoso trabalho de subsistência no campo. Quando sentirem que suas reduzidas produções agrícolas, mesmo sob o controle de cooperativas, não competirem em valor monetário com as ampliadas produções da agroindústria, essas pessoas vão se desfazer dos minifúndios para refazerem, assim, inadvertidamente, novos latifúndios. A súmula simplista de seus opositores é: os assentados recebem suas nesgas e depois negociam-nas em troca de ninharias financeiras e, voltam à cidade , ou seja, ao seu recomeçado arrocho urbano. Sabemos que não é bem assim, que existem projetos e práticas mais saudáveis. Mas o tal do jeitinho brasileiro de ver e fazer as coisas põe as boas intenções no mesmo balaio de gatos. Os espertalhões e suas vítimas dão, assim, ao MST, a aparência de questionável confiabilidade. E sabemos que por falta dela, da Reforma Agrária, é que acontece todo o êxodo rural instaurando milhares de favelas em toda parte. Mas quem expulsou o homem do campo de suas roças , muito mais que o latifundiário, foi, a agroindústria. A moderna tecnologia do maquinário substituiu a agropecuária de subsistência dos litros e quilos para a agroindústria da produção em toneladas. Onde dezenas de roceiros aravam, plantavam, capinavam e colhiam, um simples jogo de máquinas (trator, plantadeira, capinadeira, colhetedeira) empurrou todos para os aglomerados urbanos de uma vida aparentemente melhor: o trabalho com carteira assinada, assistência médica e educacional, conquistas que deveriam ter alcançado o homem do campo no próprio campo, onde se contextualizava – e que dificilmente acontece quando se tem que mudar de paisagem e de vida. O advento da modernidade tecnológica trocou os povoados de choupanas da roça para os barracões das favelas na cidade, eliminando as pequenas povoações rurais da Tenda, do Narciso, da Volta do Brejo, da Cruz do Pugas, do Capão dos Porcos, da Lavrinha e do Lavapés, na região do antigo Desterro, hoje Marilândia, município de Itapecerica, MG, cada uma delas com dezenas de chácaras e sítios, com suas moitas de bambus, seus quintais com as rocinhas, os regos de água, as hortas de couves. Num átimo tudo foi derrubado e no lugar dos sítios surgiram as modernas casas de campo da pequena burguesia urbana.... O que os ativistas do MST querem é a reimplantação dessas chácaras ao longo dos latifúndios? Se for, as dúvidas sobre o sucesso avolumam. Se as chácaras antigas não deram certo no passado, vão dar agora? A pequena produção de cereais, de hortaliças e de frutas vai competir com as toneladas oferecidas nos CEASAS? E então? O assentado não vai vender sua gleba para quem vai emendá-la com outra e outras até refazer a propriedade maior, para estabelecer ali a aprazível casa de campo do estressado pequeno-burguês urbano? Sei que estou embaralhando um pouco o raciocínio, mas por favor, leitor, não me entenda tão depressa. Alguém alguma vez já elogiou o latifúndio? Não é um absurdo tanta improdutividade diante de uma humanidade desnutrida? É mesmo necessário derrubar as árvores do cerrado e das capoeiras, nivelar tudo ao alcance do trator, triturando de uma vez as espécies e os seres e a gama ainda irrevelada da biodiversidade? Por que não se aproveita devidamente, em vez da hecatombe, a área agriculturável já demarcada e comprometida? Por que avançar na natureza virgem, massacrando bilhões de seres ainda vivos. Não é preferível que o próprio latifúndio improdutivo fique livre da sanha predatória, assim mais no alto das indagações e sob o signo da preservação ambiental que favorece a humanidade como um todo? Não é preferível que o latifúndio improdutivo e a agroindústria das monoculturas sejam aceitas como contradições necessárias, uma a funcionar como reserva de vida, mantendo o potencial e a frutificação dos vegetais, dos minerais e dos animais (e toda a gama intrínseca da biodiversidade, da fotossíntese, do equilíbrio ecológico); enquanto a outra (a agroindústria) continua a funcionar como abastecedora da alimentação humana a preço e quantidade e qualidade compatíveis com a recomendável salubridade? As Sagradas Escrituras afirmam que Deus criou a terra para o desfrute dos seres vivos. Então, erroneamente interpretam que Deus criou a terra para o Homem e que por isso o Homem pode fazer dela o que entender, ao passo que racionalmente sabemos que Deus criou a terra para os seres vivos de todos os tempos e não apenas para os do nosso tempo. Quem se der ao trabalho de analisar a função muitas vezes negativa das modernas tecnologias, facilmente constatará que a agroindústria implantada a partir do século 20 mudou a face do nosso planeta e já começa a deformar a própria estratosfera. Consequentemente a terra está ficando cada vez mais árida, metafórica e literalmente mais árida.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Muito Obrigado pela pesquisa Sr.Lazaro Barreto pois tinha uma pesquisa para a aula de historia sou da 5serie que hoje é 6ano e minha profesora pediu-me para fazer essa pesquisa
Grato
Thiago

9:37 AM  
Blogger pibidiana fusqueira said...

Faço faculdade de agronomia na ucs (vacaria/rs) estamos abordado o exato asunto em sociologia rural.Apenas gostaria de saber quais seriam os principais passos para formar um latifundio que realmente desse certo.
Aline Santos

6:26 PM  
Blogger Filipe Paz said...

Apenas respondendo a pergunta da nine, para que seja necessário para formar um latifundio que ainda de certo é preciso alem da distribuiçao de terras, um incentivo a mais do governo para os novos agricultores, como por exemplo, empréstimo barato e isenção fiscal.

Em relação ao texto do Sr. Lázaro, gostaria de parabenizá-lo. Muito esclarecedor.

7:40 PM  
Anonymous Anônimo said...

parabens muito bom o seu comentario..

12:38 PM  

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