quarta-feira, maio 16, 2007

DEUS, ANIMAIS, FAMÍLIA

Klaus Mann encerra o livro de sua biografia de André Gide, com as palavras do próprio escritor francês: “nunca aceite a vida como um fato consumado. Nunca deixe de acreditar que ela possa ser mais rica e mais bela – a sua vida e a vida de seus semelhantes. Não aceite nada por definição! Investigue tudo! Exija provas para cada teoria! Ajude a melhorar todos os males! Algum dia compreenderá que é o homem – e não Deus – que devemos censurar pela confusão dos nossos negócios terrenos. A partir desse dia você não concordará mais com o mal. Ó luz tão clara. Penetra nos meus olhos. Tua verdade, Senhor, até o coração me feriu”. Meu Deus! Como a árvore às vezes parece uma pessoa. É como muitas vezes uma pessoa tem os ares de uma galinha da angola ou de um cachorrinho vira-latas. Uma combinação de elementos genéticos de enzimas e cromossomos se plasmaram na justaposição dos condimentos e se abraçaram na mistura das afinidades – e daí veio a flor de uma moça chamada Mirafélia e a beleza de cabra chamada Matilde? A MEL, nossa cachorra afegã, que tem o porte de uma majestade e um semblante de uma poeta-musa contemplativa, ficava amuada depois do cio, como se tivesse sido emprenhada, mesmo sem cruzar com o macho. Apresentava os sintomas da gravidez, abria o apetite, deitava à sombra nas folhas da mangueira, e se estirava, momenta, ciente de que esperava o alentado parto. A clonagem acenada pelos cientistas enfada a esperança de melhores dias no reino animal. Já pensaram na canseira visual das fisionomias repetitivas? Ah, não foi à toa que na Fazenda Serra Negra, do Ceniro Marcolino, uma ovelha apaixonou-se pela novilha malhada, que retribuiu o amor com a mesma intensidade. Não havia cerca de arame ou de tijolo que as separassem..., de tal maneira que quando o dono vendeu uma teve que vender a outra para o mesmo comprador, para assim impedir que ambas morressem de tristeza. O amor delas era ou não era uma fuga às semelhanças, uma afetiva busca da diversidade? Missa do Dia das Mães na Igreja de Nossa Senhora de Fátima (bairro Poro Velho, Divinópolis, MG). Os atos litúrgicos repercutiam nos corações afinados na contrição e na penitência e nas aleluias evangélicas: as orações, os cantos, os salmos, as leituras bíblicas, as oferendas e a comunhão cristã do povo de Deus. Tudo muito sublime como em toda primavera da alma humana diante do santo sacrifício da Missa. Depois que uma criança declara que o dia das mães é todo dia e o padre observa que cada uma (das mães) é uma auxiliar direta de Deus, pois está sempre recriando a vida no mundo, todas as mães presentes são reunidas num recinto do altar para receberem a homenagem coletiva dos fiéis. Aí uma catequista (que depois descobri ser minha prima) passou a ler um texto de palavras quentes e luminosas, que penetraram nos corações, enternecendo e comovendo. Aos poucos as palavras, as frases e os períodos já derretiam os corações - e as pessoas começavam a enxugar as lágrimas da emoção mais profunda. A própria catequista lia e soluçava, soluçava e lia, num duro exercício de estoicismo e de fina piedade. Abro aqui um parêntese para observar que o tema do amor materno sempre foi (e será) muito comovente, sempre a lembrar-nos os passos de nossa própria vida, iluminados pelo olhar de nossa mãe. E é assim, instintivamente, que a auto-confissão aflora, com a certeza que vem do fundo da consciência, que nenhum de nós neste mundo foi suficientemente bom e justo com a própria mãe, e que podíamos ter sido mais atenciosos e amáveis com ela. É assim mesmo, leitor, ou estou falando apenas por mim ? Aqui fecho o parêntesis para felicitar a catequista, que mesmo soluçando, concluiu a leitura, de forma clara, bonita, cheia de amor e até de um certo heroísmo. Rara primavera em pleno outono friorento. Glória a Deus nas alturas e felicidade na terra às pessoas de boa vontade.