PREFÁCIO AOS CONTOS DO APOCALIPSE CLUBE
As mentes preocupadas com os desmandos das ações alienadas perscrutam e registram que nos pólos da esfera terrestre o aquecimento global, diante da inclemência climática e do baixo índice pluviométrico (às oito da manhã o sol já é uma brasa a sapecar nossos poros; ao meio-dia já resseca e exaure o líquido, incerto e escasso, de nosso corpo; e cada frente fria anunciada já vem com a traseira queimando) é de tal monta que pressagia a mais nefasta proximidade temporal: as crianças de hoje não passarão, amanhã, de pululantes grãos de cereais no bojo de uma férvida panela de pressão, na qual toda ternura derreterá, todo ruído será um trovão, e todo relâmpago um raio que nos partem em brasas, cinzas e fumaças. Cruz-credo, vira essa boca pra lá, coruja amarga e azeda. Ora essa, chispa daí. O noticiário fatídico então ressalta que os icebergs da Groenlândia e da Antártica soltam-se de suas calotas e o nível dos mares, que aumentava em milímetros, tende a desmesurar. As casas da Sibéria já estão desmoronando porque o chão está afundando? E então, o planeta vai primeiro virar uma bolha e depois um pingo de salsugem na imensidão cósmica? E então, ecologistas de toda parte, não está passando da hora de acirrar uma nova campanha? Um trabalhinho aqui, uma palavrinha ali: oh! que tenham dó e piedade da atmosfera que se descola da sistêmica atividade solar (que então não passará de uma bola de fogo, um cobertor de ferro em brasa que asfixia e derrete todo sinal de vida na descabelada crosta terrestre). E então, ambientalistas de todos os matizes? Não deixem que joguem água fora nem lixo nos rios, não aprovem a monocultura, o desmatamento, o assoreamento, a lixiviação. Ora pois!, não esmurrem a inocência das migalhas, nem risquem o fósforo nas macegas, tenham dó da atmosfera nas planilhas do bem estar social das nuvens no limbo vulnerável, tenham piedade das formigas tontas de tantos seres vivos (que não souberam olhar para cima), condenados à morte prematura. E então, políticos de meia tigela, que não deram conta do recado do povo que lhes outorgou a administração dos bens naturais (vale dizer da vida no mundo): não atirem pedras nas caixas de marimbondos nem esmaguem as minhocas e tanajuras e siriricas em que os seres humanos se transformaram; não manquem de ambas as pernas, como sempre mancaram: ao contrário: cheguem terra úmida e fértil ao pé de milho e de quiabo, voltem a andar a pé nas ruas e estradas, dêem um lenitivo aos próprios olhos (os ossos, as vísceras, as carnes e peles agradecerão); não sujem as fontes das fluências, não esmurrem a dócil fotossíntese, reverenciem a meiga clorofila, apaguem a luz que fere a saúde da treva, desliguem os motores da balbúrdia inconseqüente, respirem o restinho de ar azul do verde ambiental, abençoem a biodiversidade; deixem de ser bobos, ó politiqueiros de uma figa: contemplem os milagres da natureza (e seja um deles), não permitam que cortem a árvore da vida, bem plantada no quintal que ainda resta das casas e nos âmbitos propícios de nossa vivacidade, tão subjugada, mas ainda plantada para salvar o mundo da esturricada, do finalíssimo (que deus nos livre e guarde) apocalipse. E então?
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home