quarta-feira, maio 16, 2007

NA INFÂNCIA

O quintal densamente arborizado: jabuticabeiras permeando o espaço com os ipês e jacarandás, as bananeiras com as bilosqueiras, as laranjeiras com os pés de coités e de articunzinhos, as mangueiras enormes e robustas, os mamoeiros dóceis e frágeis, os esgalhados pés de urucuns e de café, os cajueiros e as mexeriqueiras dispersas, um córrego que se repartia, enfolhado e enflorado no chão úmido e fértil. Mas, de um dia para o outro, a verticalíssima árvore de jambos secou, do tronco às pontas dos galhos, rachando o chão na área das raízes, mostrando nas fendas os indícios de algo insólito e assombroso. Um bicho do outro mundo? Um dragão, um dinossauro? Uma tarântula gigante? Vi aquilo movendo-se sob a tênue camada do solo rachado e fiquei bobo de ver. Apavorei-me na repentina solidão. Que diabo seria aquilo? Que loucura do outro mundo seria aquela? Mais que depressa busquei a lata de querosene e quando ia entornar o líquido para tacar fogo, acordei com minha mãe dizendo que estava na hora de ir para a escola. Fiz o sinal da santa cruz e dei graças a Deus.