segunda-feira, abril 16, 2007

MÃE DE FAMÍLIA

Por que a ela pode ser imputada a culpa do pecado original? Ela tem a força moral acima da fraqueza social. Até mesmo a mais fragilizada (Marlene Dietrich) consegue fragilizar os homens mais duros (Jean Gabin, John Wayne). A Marlene é um bom exemplo, ela que parecia mover-se numa moldura diáfana, envolvida num ar diferente, que respirava com dificuldade, que imprimia em suas feições distanciadas (enfatizadas, porém, pelos longos cabelos louros-avermelhados) o ar aparentemente doentio e realmente cativante de sua brilhante formosura. Qualquer uma delas, seja nova ou velha, bonita ou feia, pobre ou rica (as distinções são injustas, mas necessárias), ao contracenar com os homens em qualquer palco da realidade, rouba os olhares da platéia, como a ruiva Greer Garson fazia na teatral Inglaterra de seu tempo. E como a voluptuosamente beiçuda Angeline Jolie faz hoje em dia nas telas de todo o mundo. De tê-la criado assim como é, na peneira das ambigüidades instigantes, Deus nunca se arrependeu. Ela é a mãe nossa de cada dia, a namorada de nossas lúbricas paixões, sempre a encontrar (como lá diz Balzac) indulgências em seu coração para as tolices que inspira a nós, homens, vassalos dela. E é assim que digo-me sempre: não se envergonhe da delicadeza de certos momentos e da ternura de inadiáveis instantes: só assim, rendido, desarmado, você chegará perto da mulher, atraindo-a. Nenhuma delas, na História e na Geografia , jogou pedras nas caixas de marimbondos, nem jamais teve o nome maculado nos relatos dos massacres e genocídios e holocaustos: ela que traz no seio a luz do mundo, não participou nem de longe da crucificação de Jesus, nem lidera, hoje em dia, o comando vermelho do crime organizado do brasil afora. É isso aí, assim mesmo. A família é um feixe de afetos problemáticos ou é um feixes de problemas afetuosos? Todos brigam aos beijos e abraços – e no final das contas o choro de alguns até parece um canto alegre, não é mesmo? Graças à lúcida e atraente presença da MÂE.