domingo, setembro 28, 2008

NOVOS GRÃOS DE PÓLEN

Palavras provisórias de um livro em preparo, intitulado, também provisoriamente, de NUMES TUTELARES – Os Mestres de Outrora: a política sempre utilizou o até hoje inesgotável arsenal de ferro e fogo para controlar as populações urbanas e rurais de todas as partes do mundo. No Brasil o cidadão da roça e do campo fica peado e manietado, subjugado ao móvel sistema de controle acionado pelos donos do poder. Contra esse estado de coisas nojentas é que ao longo do tempo os numes tutelares da insurreição se levantam brandindo as palavras de esclarecimento, com a finalidade não de virar o jogo, que isso tem sido humanamente impossível, mas de pelo menos lavrar seu protesto de forma pública e notória, visando contrabalançar as arremetidas dos recrudescimentos despóticos. Brandir as palavras não basta, como não basta exercitar o quixotismo, mas os que tentam “segurar” o incansável recrudescimento, levantam as cabeças e erguem os braços enquanto proferem suas veementes locuções, oferecendo as veias do pescoço e dos pulsos e a própria pulsão do espírito – e assim a vida e não a morte continua a dar o ar de sua graça no planeta. De uma carta de 1998 remetida à poeta Maza de Palermo, que provavelmente não recebeu: “Há dias que venho lendo seu livro e parece que não chego jamais ao fim dele, porque cada fim é um recomeço – e além disso sinto que há uma grande distância entre um poema e outro; e assim tenho que parar para descansar e recuperar o tino anterior, ou melhor dizendo: - O livro de Maza de Palermo é uma pugna entre a piedade e a violência, é um casario humano, uma estatuária greco-romana, uma floresta de troncos abruptos e frondosos. É bom saber que há uma grande distância entre os poemas: é como sair de uma casa penhorada e chegar em outra remida, é como acorrentar Prometeu nos próprios olhos e examinar as arestas dos olhos e dos sexos de Júpiter, de Minerva, é como subir nos galhos da aroeira em extinção e depois colher as frutas e as sombras do pé de araticum. É um livro torrencial? Cada parte, parte para outros fins: as linhas são como tábuas de uma ponte pênsil... Cada verso é uma lágrima? Uma dor? Cada poema é uma flor da realidade? Marilyn Monroe Segundo Billie Wilder ela era muito mais provocadora que provocante, ou seja, mais atriz do que personagem. Isso quer dizer que alardeou sua imagem pública de estrela sensual, ocultando no recesso da intimidade a sua identidade primordial e autêntica, de mulher comum, familiar, social, amiga dos amigos – o que os produtores e lucradores de seu estrelato não permitia. Daí a predominância de sua imagem pública em detrimento de sua verdadeira imagem. A Vida Depois da Morte: Um irmão de meu avô, o Tonico Barreto, mudou com a família do Desterro para São Sebastião do Curral, ou seja, do Arraial Velho para o Arraial Novo, onde exerceu várias funções públicas, enviuvou-se, casou de novo e faleceu. Um dia, quando exercia o cargo de Delegado de Polícia, procurou a neta Geralda (segunda esposa do Antonino) e fez a seguinte proposta: “conhecendo-a como conheço e sabendo que é uma pessoa de palavra, como eu sou, proponho-lhe voltar à vida, depois que morrer, para contar como é a coisa lá na eternidade. Se você morrer antes, você vem me contar, combinado?” A Geralda, sem pestanejar, concordou. E como já sabia que ia acontecer, o Tonico morreu primeiro e lá numa tarde brumosa, dessas que precipitam a chegada da noite, estando ela a cabecear no quarto de dormir, na fazenda da família lá nas Itapecericas, lugar que hoje tem o nome de Aquiles Lobo, quando ouviu o silencioso rumor (se isso é possível) da chegada invisível do avô, que foi logo dizendo: “Ó minha querida Genera, não se assuste que vim em paz e amor cumprir o prometido. Fique tranqüila e ouça: lá onde estou não é como dizem, nem como pensam, nem como sonham, nem posso dizer como é. Vim porque sou homem de palavra. Mas feliz ou infelizmente você só ficará sabendo como lá é depois que um dia ( que ainda vai demorar), for dessa vida. Assim é, pode ter toda certeza. Toda a humanidade ignora e continuará ignorando e só vai saber depois do Juízo final.” E mais não disse e sua invisível presença foi embora, levando o silencioso rumor para o infinito da eternidade.E ela, a Geralda do Antonino, dormiu por muitos e muitos dias seguidos. E quando acordou, contou. Frase de uma extrema sabedoria, que às vezes vem assim de repente – e a gente não sabe de onde veio: “de uma criança a gente não espera que simplesmente chore, mas que também xingue”.