EROS, FILHO DE AFRODITE
Na hora afeiçoada no cordel das madressilvas, a divindade é parceira de nossa humanidade. Foi assim que o Caos gerou a Noite e também o Éter e o Dia, os quais, em conluio, geraram o Céu cheio de luz que abençoa a terra, abrindo nas espumas do mar o nascimento de Afrodite, mãe da beleza e do prazer e dos amores e das graças e dos jogos e dos risos e sobretudo de Eros, imbuido do ávido paladar evocando e contaminando toda a divina linhagem feminina, no limiar de um mundo caloroso que criou e educou Minerva, Íris, Hebe, Ártemis, o corolário de consecutivos diademas e a penca de seus amores e de suas paixões: as Ninfas e as Bacantes (o amor para ser amor precisa ser correspondido nas asas, nas pernas nos braços e flechas sedutoras); as nove Musas do Parnaso entre as palmeiras e os loureiros, as Horas, as Parcas, as Graças, as Nereidas, as Amazonas, as Sibilas, as Danaides, as Sereias (as deusas tão humanas, as humanas tão divinas); e além das mencionadas as mencionáveis: Alceste, Ônfale, Alcione, Jocasta, Antigone, Ismênia, Polinice, Ariana, Fedra, Medeia, Eurídice, Hecuba, Helena, Clitnestra, Leda, Penélope, Andrômaca, Dido, Cassandra......... Da aurora auspiciosa à noite dos estrépitos e fulgores, (no tempo e no espaço, paralelamente), os deuses, inspirados no ávido paladar e na magnífica visão de Eros, procuravam a encarnação do aroma, a auréola do clímax (isso desde a aurora auspiciosa até à noite dos estrépitos e fulgores), na viagem em mão dupla de ambos os sexos, como se cada um procurasse no corpo do outro a palavra ideal que as estrelas diriam se dissessem (no hermético sigilo de seus pruridos vocabulares) na configuração ampliada do universo cordial-afetivo da exposta sensualidade dos interlúdios nas almofadas das alcovas, das interferências dos desejos à flor da pele, as almas corporificadas nuas e nuas de ambas as partes, de ambos os lados, sumamente interligados. Ele procurando as doces palavras no corpo dela: as pétalas da corola responsável pela úmida quentura, as peles e pêlos eriçados no fragor triunfal, as pupilas piscando, convidativas, os arcanos entreabertos sugando o mel das orquídeas, as penas que voam na alacridade do elenco formidável das miragens, no olhar interior das bactérias e dos cromossomos (Ah! Oh! Tudo isso faz lembrar-me do olhar que era toda a pessoa de Micahele Morgan: verdes e tão verdes na telona do filme noir francês), lívidos penedos desbeiçando das alturas ignotas, revelando as feições satisfatórias dos amantes nos umbrais das felizes uniões de fervores: as uvas em cachos trançados um pouco acima do ávido paladar erótico?... A moderna ressonância das pretéritas mitologias, a doçura do lirismo, a quentura da epopéia, a frialdade distanciando nas esferas de remotos vislumbres, as palavras chovendo e chovendo e chovendo das alturas para o dossel do leito dourado, no meio das nuvens de imagens e de metáforas especiais do mais vivo estertor de uma morte demorada, de uma súbita ressurreição da extrema lucidez prenunciando o sono reparador e melodioso, novamente a prelibar a guloseima tão longamente almejada.
1 Comments:
Opa! A Mitologia é, por si só, uma divindade. Esse divino poema tem duas profundas e fortes fontes de inspiração: a divindade e o desejo. Resulta esta explosão de palavras cálidas (espero que tenha recebido o poema que enviei para você "O Poeta e as Musas". Marilda Mendes.
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