DIÁLOGO MUSICAL
à Inês Belém Barreto
I
O piano canta nos dedos de Liszt
chora nos olhos do passarinho e da moça impúbere
desliza na maciez das relvas e das águas
gorjeia nos intervalos do monólogo
sobe e desce nas palpitações cardíacas
dança
ilumina
suscita
exprime
explode
é riso na clave de sol
é dor no pontilhado do enlevo.
O amor que vem de longe engasga
estaciona na ânsia da paixão de um anjo
que é o diabo que é o anjo
que é o amor.
II
Chopin enche as mãos de sons sibilantes
a cotovia da suavidade noturna
o rouxinol da afinidade melódica
os pingos da chuva lunar
os afagos dos beijos noturnos
(eternamente noturnos na nudez da beleza).
Que ele assim em si mesmo é um deus
um deus aclamado e notório em si mesmo
a se perder de vista em si mesmo
nos árduos caminhos de si mesmo
nas ramificações dos prelúdios e epílogos de toda parte
que só ele conhece e sofre e dedilha
na surdina dos rarefeitos estrépitos
(macios! melodiosos!)
das abordagens diretamente ligados
às entranhas da alma.
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