sexta-feira, abril 24, 2009

FORTUNA CRÍTICA 3

De um e-mail recebido do poeta Osvaldo André de Mello em 14/07/2008: 

“Meu caro Lázaro: Fui assaltado pela lembrança e saudade dos seus contos, principalmente os publicados nos nossos periódicos e no nosso inesquecível AGORA – e que tanto contribuíram para a minha formação literária. Fui reler, então, AÇO FRIO DE UM PUNHAL. O primeiro conto, A BANANA DE DEUS, insólito, áspero, metálico (que metáfora, que parábola, que sinais há por detrás da experiência que surpreende o narrador?), leva-nos ao seguinte, OS IDIOTAS POPULARES DE ÁGUA PARADA. O livro vai prendendo o leitor (ele não está diante de uma escrita corriqueira) e o joga para a frente. Nesse conto o que mais me emociona é essa população desgarrada de Deus, mas feliz na sua demência. O lirismo se instaura. Poética da loucura. Essa população que, gradativamente, toma o espaço social, as instituições e as suas sedes, dos normais, que, não satisfeitos, talvez intolerantes com a própria loucura camuflada, retiram-se, deixando aos idiotas a água parada. O próximo conto, SONETO QUASE PARNASIANO, para o meu gosto é uma obra-prima. A difícil e torturante busca do auto-conhecimento. A perseguição sofrida pelo narrador, cotidianamente constante, mais as diferentes tomadas de núcleos temáticos, que se vão alternando, imprimem ao texto estrutura e atmosfera de sonho, Finalmente, o desfecho, com o diálogo inesquecível, tal se fossem o letreiro de um filme: as falas proverbiais dos tarecos e papiatas. Em toda a obra (já vou correndo para UMA HISÓRIA EM QUADRINHOS; é a primeira vez que leio um livro de contos na sua seqüência própria: gosto de ler salteado, começando pelo último, e, no final, pinçando pelo índice os que não li); em toda a obra, que já começa a construir a sua totalidade, as marcas: a poesia, a erudição histórica contextualizada na cultura popular, a escolha vocabular, que contrapõe palavras oriundas de áreas específicas do conhecimento a palavras banais e a expressões da fala, a fabulação.... Começo bem a semana. Obrigado, meu caro amigo Lázaro Barreto, por permitir aos meus olhos mortais contemplar a beleza eterna. Com os votos mais felizes, sempre seu amigo e admirador, Osvaldo”.