quinta-feira, abril 02, 2009

OS RETALHOS DO TECIDO V

Atualização de Conceitos. “A pedofilia é a perversão dos fracos e dos impotentes” – Sigmund Freud. - “Há algo de profundamente distorcido em nossas visões amplamente aceitas quanto ao que significa viver uma vida de bondade” – Peter Singer. - A criança abusada pelo pedófilo “pode se tornar abúlica ou muito agressiva, perder a capacidade de sonhar ou reviver a cena em pesadelos, ser tomada por sentimentos de perseguição...”. – Renato Mezan. - “É comum, no Brasil, reclamar das penas aplicadas pela Justiça: muito baixas para crimes hediondos, muito duras para ladrões de galinhas, quase nulas para colarinhos brancos”. – Laura Diniz. A Encomendação de Almas em Marilândia. A Encomendação de Almas é uma prática não litúrgica do catolicismo popular nas regiões brasileiras (como Marilândia) onde a religiosidade popular é mais aguçada e copiosa. Mas a celebração está sofrendo o processo de esvaziamento e tende a desaparecer no roldão pragmático e tecnológico dos novos tempos. Como conseguir hoje nas áreas habitacionais urbanas um cenário de silêncio e de solidão no, qual os celebrantes possam seguir em compenetrada procissão, entoando seus melancólicos cânticos? É um rito de passagem das noites de quarta e de sexta-feiras da quaresma, que se contextualizava nas ruas ermas e escuras de tempos mais remotos. Com o surto do progresso material, que introduziu o movimento noturno das fábricas e dos bares em ruas iluminadas e repletas de automóveis, a celebração do culto encontra dificuldades de “clima” propício à encomendação das almas, uma prática por assim dizer confidencial, mesmo em público. Regras como a do acompanhante de não olhar para trás (para não ver as almas no acompanhamento) e de os moradores não abrirem portas e janelas das casas (para não verem as almas dos mortos no meio dos corpos dos vivos) ficam impossibilitadas em ruas de movimento noturno e de trânsito automotor, para não falar na luz elétrica da posteação, que ofusca a luz mortiça das velas conduzidas pelos participantes, mais condizente com a melancolia imposta no intercurso vivencial entre os vivos e os mortos, no jogo místico de pedir e oferecer as boas graças através das orações e penitências. Lembro-me dos rezadores locais dos velhos tempos: Tonho Norico, Olímpia do Doca, João Redondo, Antônio da Bibia, Zé Camilo, Dona Euzébia e seus filhos, e tantos outros: “encomendavam as almas”, cantando no ardor da fé e no lento fluir das passadas na rua silenciada, a lembrar-nos que o sono é a morte e a cama é a sepultura: “Alerta, alerta, ó pecador, deste sono adormecido”. Platão Sim, Auto-Ajuda Não. Autorizado pela inequívoca sabedoria, Platão assegura que o relacionamento da alma com a paixão tem que ser despótico. O ser humano tem que ser duro na queda para não se espatifar – acrescento, tomando a palavra, séculos depois. Tem que arrancar da mente, do instinto e do coração os impetuosos tentáculos do desvio comportamental, ou seja, tem que desmitificar as delícias da tentação que muitas vezes veste a roupa do pecado contra a própria natureza. O remédio, no caso, é a renúncia, único dispositivo que recupera a temperança do equilíbrio emocional. O que estou a dizer nada tem a ver com as leréias da auto-ajuda, mas tem uma raiz filosófica incontestável. Contestação. Não é por livre vontade que sou triste assim em toda a vida. Perdi o pai aos seis anos de idade... Preciso dizer mais? Cresci na orfandade absoluta. E só agora entendo que Deus não existe como no-lo ensinam que existe. ELE é a luz, a força é a planta, é a chuva é a terra, é o ar, é o homem, é a mulher. Que eternamente cada um cuide de si, enquanto o dia e a noite fazem o amor entre o berço e a sepultura.

1 Comments:

Anonymous Marilda said...

Olá! Os três primeiros versos lembram a "Dialética" de Vinicius, e são finamente tocantes. Marilda Mendes.

2:46 PM  

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