OS SENTIDOS DA PAIXÃO
Li o calhamaço (512 páginas) de diversos autores, em outubro de 1992. Uma leitura cativante é como uma fase memorável da vida: a gente assimila, dilui, arquiva na memória que é um armário fechado que precisa ser aberto de vez em quando ou constantemente. Se o leitor assimila a novidade, ele logo deixa de ser novidade, a menos que seja realmente sólida e quente. O que a consciência capta o inconsciente recolhe na parte viva ou morta do arquivo vivo ou morto. O livro supracitado está sempre ocupando um lugar privilegiado na estante, onde brilha apesar das nódoas e cáries da poluição ambiental de qualquer lugar de nossa cidade de ares envenenados. De tanto vê-lo envolvido na chusma de névoas, resolvi reabri-lo e logo as anotações saltaram das margens das páginas para meus olhos e dedos. Meu gosto de transcrever não se fez de rogado e renovo aqui a frescura das palavras de tantos autores do livro. Renato Mezan, na página 127 diz que “o narcisismo é uma parte da vida sexual de todos nós” – e lembra que Freud o incluiu entre os avatares da libido. O amor com que amamos a nós mesmos é um amor sexual, e a prova disso está na gama de fenômenos ligados ao auto-erotismo, o Renato acrescenta. Paulo Leminski, na pág. 292: “não existe nenhuma disciplina científica que tenha o amor como objeto. O amor não é estudado nem pela psiquiatria, nem pela psicanálise, nem pela psicologia social. O amor é uma coisa que você vai ter que procurar nos artistas, na televisão, no cinema, e, principalmente, na poesia”. “Às vezes a gente sai do amor” (diz Luzilá Gonçalves Ferreira na pág. 367) “como quem saiu de uma catedral, redescobrindo o mundo aqui fora com os olhos renovados. O ato amoroso, vivido em plenitude, obriga os amantes a concentrar em si mesmos tudo aquilo de que são capazes, passível de germinar com a força das plantas na primavera”. Na página 378, Jorge Coli cita o italiano Fogazzaro, autor do romance “Malombra”, cujo personagem, um exilado alemão, “confessa que foi expulso do colégio por ter amado o vinho, expulso da família por ter amado demais as mulheres e expulso da própria pátria por ter amado demais a liberdade”. Na página 463 é a vez de Sérgio Paulo Rouanet falar mais diretamente da paixão: “Ela se coloca na trilha do Iluminismo, que mais do que em nenhum outro período valorizou as paixões”. Concorda com Diderot, que afirmou: “sem as paixões, nada existe de sublime, nem nos costumes nem nas obras humanas”, e com Helvetius, que ensina que “as paixões são no mundo moral o que o movimento é no mundo físico: ele cria, destrói, conserva, anima tudo, e sem ele tudo está morto. Do mesmo modo, são as paixões que vivificam o mundo moral”. AMOR COM AMOR SE CASA. Exercitando sempre o culto da leitura das publicações literárias de nossas minas gerais, sinto-me agraciado, diante do proveitoso conhecimento da plêiade de poetas e prosadores de Mariana, através das publicações de livros, sites e do jornal ALDRAVA, que é o porta-voz na entrada de toda sintonia, de toda sinfonia dos dois lados do eterno Ribeirão do Carmo, alardeando as éclogas ecléticas e os matizes pluralistas, as pastorais e os florilégios de tanta beleza exposta. E agora os haicais, ah os haicais como os de J. B. Donadon-Leal, publicados no livro “Vereda dos Seixos”, oferecidos, apaixonadamente à musa de sua inspiração, sua esposa, a também poeta nas vinte e quatro horas de todo o dia do embelezado cotidiano. Pincei alguns, do poeta à musa, do amado à amada. Ei-los: Veludo nos lábios, pérolas negras nos olhos. Encarnação de anjos? Com seus gestos suaves. Borboleta em pleno vôo. Fugace mulher. Bolinhas de vidro: - um par de olhos na janela e eu louco por ela.. A porta na espera por ti permanece aberta. A noite é que chega! Onde anda você? Gritei desvalido ao mundo: só o vento murmura.
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