VOCAÇÃO POÉTICA
Às vezes num dos momentos mais endurecidos do ineditismo, o escritor preterido pela mídia contemporânea, cansa de tanta masturbação mental, pergunta a si mesmo se não seria preferível ir para a roça plantar batatas em vez de acumular versos em pilhas de estrofes, arquivar (soterrar) originais impublicáveis.... A pergunta fere os brios, cala fundo no desgosto do amor próprio. O que então fazer com as caudalosas palavras, o estro afinado, a inspiração sempre à flor da pele? Jogar os brindes em forma de poemas na lixeira? Embasbacar, enrustir, coçar o saco e a cabeça? Engolindo a contragosto as irônicas interrogações, o ingênuo peregrino do amor não-correspondido, trepa nas tamancas da indignação e decide: nada de desistir no meio do caminho, nada de apagar a chama dos olhos diante de uma paisagem instigante. Nada de desistir depois de tanto caminho andado. Se você plantar os grãos em terra estéril, o tempo passa. Se não plantar, o tempo igualmente passa. Então por que não semear seus abrolhos, mesmo se a terra está momentaneamente sáfara?
1 Comments:
Se o poeta desiste, que rosa irá brilhar no cinza urbano?
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