IMPASSES E ALTERNATIVAS
1 - Podia Ser Melhor. O filme OLGA. O diretor Monjardim calcou demais a mão sobre a dramaticidade do enredo, descuidando-se dos outros arranjos fílmicos que normalmente dão consistência e credibilidade ao andamento descritivo-narrativo, fatores que nas boas fitas resultam na unidade e no ritmo condignos, e que são ingredientes imprescindíveis em qualquer obra de arte. A todo momento, no entanto, ele se dispersa em atravessamentos, esgalhando a atenção do espectador e fragilizando a força de expressão da tessitura. A mão forte num ponto e o pulso fraco no outro redundam em disparates e carências no conjunto, de tal maneira redundante que a imagem do propalado Cavaleiro da Esperança revela-se num líder incompetente nas ações, limitado nos objetivos e muito mal informado das circunstâncias. Fico pensando: como uma pessoa assim desqualificada pôde merecer atenção e preocupação do governo ditatorial do Getúlio e do próprio diretor do filme.... Sua imagem está muito rabiscada na História, para merecer redundantes engodos.
2 - Depois do Outono vem o Inverno.
O inveterado leitor de livros ao longo dos anos sente que não pode limitar-se às grandes e belas obras do ensaio, da poesia e da ficção. É necessário contemporizar os sobressaltos emocionais e intelectuais, dosando-os de vez em quando, não com as obras da água rala dos propalados “mais vendidos da tristonha auto-ajuda” e dos lançamentos encalhados, mas com as obras que, mesmo sendo de um tom menor são, mesmo assim tocantes emocionalmente, instrutivas intelectualmente, sem os sobressaltos da grandiloqüência e do engodo. Fica no meu tempo um espaço para as obras menores dos bons, modestos e honestos autores. Foi assim que cheguei ao livro QUARTETO DE OUTONO, de Bárbara Pym, onde se fala de quatro pessoas tristemente debruçadas nas inconsoláveis janelas que dividem a meia-idade da senilidade. Nada de espantoso acontece na rotina delas, apenas a sucessão dos dias fastigiosos. O pior ao chegar neste ponto é ter de engolir diariamente a convicção de que é impossível livrar-se dos intermináveis aborrecimentos assumidos no começo e agora definitivamente inarredáveis. Resta o consolo da lembrança da autora, já no final da melancolia: “um bosque na primavera pode ensinar mais sobre a humanidade do que todos os sábios do mundo”.
2 – Universo Online.
A vida sobre a terra e o universo online do computador têm em comum o espaço virgem das procriações. Por assim dizer, a vida é a eternidade, não tem começo nem fim, nascimento nem morte, mas apenas a transformação em três estágios: o antes, o durante e o depois, interligados na eternidade. O universo online do computador também é uma folha branca que atravessa as cúbicas dimensões do espaço, sem começo nem fim: uma folha branca recebendo as inserções, arquivando-as, expedindo-as, mas seguindo adiante na mesma infinita brancura universal.
3 – A Dança Louca.
Hoje as pessoas entram no futuro antes dele chegar nelas e se rejubilam ou se atrapalham? Slavoj Zizek menciona o chamado “choque do futuro”, ou seja: como hoje as pessoas não são mais psicologicamente capazes de encarar o ritmo alucinante do desenvolvimento tecnológico e das mudanças sociais que o acompanham. “O recurso ao taoísmo ou budismo”, ele diz, “é o que melhormente pode nos preparar para enfrentar a parafernália tecnológica, distanciando-nos da louca dança desse progresso, e só assim podemos acreditar que toda essa comoção social é, em última instância, apenas uma proliferação insubstancial de aparências que realmente não envolvem o núcleo mais íntimo de nosso ser”. Fico na dúvida e de dedos cruzados, diante desse instável capitalismo virtual de hoje. Penso que para enfrentar a tentação de embarcar numa canoa furada, é que devemos procurar caminhos menos trepidantes, mais simples e saudáveis. Ou seja: menor produção de quinquilharias destinadas aos abismos de lixeiras que, industrializadas, furtam, esmagam e soterram os bens do reino da natureza (as mais vitais e sadias heranças da humanidade): os minerais, os vegetais, os animais.
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