sexta-feira, novembro 12, 2010

A LITERATURA NO INTERIOR DE MINAS

Desde a concreta implantação do Modernismo Literário no Brasil, na década de 20 do século 20, que o exercício efetivos dos portadores de vocações literárias ramificaram da Capital para o interior do Estado de Minas, pontificando principalmente em reconhecidos pólos como Cataguazes, Uberaba, Guaxupé, Divinópolis, Juiz de Fora e, mais recentemente, em Mariana, onde brilha e extrapola a específica movimentação chamada ALDRAVA através da periódica e continuada publicação de Jornais e Livros específicos de inequívoco valor intrínseco, além da importância da divulgação de textos de novos autores , também, de muitas outras localidades brasileiras. É com prazer que transcrevo aqui em meu blog (http://lazarobarreto.blogspot.com) o belo e expressivo texto de Andréia Donadon Leal – pessoa de muita influência no Movimento. 

 FLORA IX (*)

Flora tem sobrevivido às notícias ruins, às avarezas, às perseguições e às incertezas. Tem suportado a primeira, a segunda, a terceira, as inúmeras pedras; as maledicências, as ironias ácidas, aos olhares tortos e pecaminosos. Coitada de Flora: sobreviver à flacidez inexorável da pele, à morte diária dos neurônios cerebrais, à perda do paladar, às tremedeiras pela manhã, aos pigarros e regurgitações à noite, oriundos de uma esofagite; à candidíase, às erupções cutâneas, às zigueziras, às dores de barriga e do corpo, às cólicas menstruais, às dores nas pernas, a exames sanguíneos, ginecológicos e endoscópicos. Flora tem suportado o frio severo, os calores sufocantes, as mudanças bruscas de temperatura do tempo e da idade; a virada dos anos, as noites solitárias de lua, os dias vazios de azul; os amores não correspondidos, os desejos reprimidos. Flora não se desmanchou no tempo, não se desintegrou de estar só; não morreu prematuramente, mas sobreviveu com o êxtase luminoso de ter envelhecido. 

(*) Transcrito da página 33 do livro FLORA: Amor e Demência e Outros Contos (Edições Aldrava Letras e Artes, Mariana, MG, 2010).